terça-feira, 28 de junho de 2011

Aos colegas, com carinho

Escrevo melhor do que falo, isso é um fato. Não, isso não é nenhuma auto-promoção de meu texto falho, e sim a constatação de que eu, tímido, tenho menor dificuldade de expressar sentimentos através da palavra escrita. Portanto, faço dela minha arma.

Esse é um depoimento que poderia constar nos Orkuts da vida, mas meu blog é um espaço onde me sinto mais à vontade, principalmente sendo ele para um grande público. E prefiro fazê-lo assim, aberto, visto por um público maior ainda. Talvez seja megalomania minha, achar que minhas divagações são lidas por muita gente, mas é assim que prefiro pensar.

Esse é um depoimento, um balanço de meus primeiros quatro meses no Mestrado em História do Brasil. Não vim falar, efetivamente, do aprendizado intelectual. Não das leituras, dos textos, dos professores, das pesquisas. Prefiro me voltar para algo mais subjetivo, mais sentimental. Para algo que eu, de corpo presente, talvez não soubesse expressar com tanta clarividência.

Nesse mesmo blog, comentei sobre meus sentimentos durante o processo seletivo. Aquela caminhada, aparentemente solitária, se mostrou muito mais coletiva do que eu imaginava. Pessoas caminhavam junto comigo, e eu percebia sua presença. Passei a torcer por elas tanto quanto por mim mesmo. E, olha só, muitas chegaram junto comigo. O mais impressionante é que outras, a princípio desconhecidas de mim, também chegaram, e, de repente, se tornaram parte integrante da minha vida (louca vida).

O começo foi, sim, um jogo de pôquer. A ideia - pelo menos a minha - era sacar todo mundo. Um por um. Perceber suas concepções, suas percepções, seus alinhamentos. E isso não foi difícil. Difícil é manter o "poker face" quando a gente se afeiçoa. Não era mais necessário. Nunca foi. Eu, na minha pequenez, imaginei uma necessidade totalmente descabida.

Nesses quatro meses, experimentei bem mais que o coleguismo. Em pouco tempo, quase duas dúzias de ilustres desconhecidos se tornaram conhecidos de infância. A convivência diária, o turbilhão intelectual, os sorrisos, as conversas (de sala de aula ou de corredores), as brincadeiras, ganhavam a proporção de uma cumplicidade subentendida. Eu, migrante, pisava num mundo novo, que se tornava menos hostil e mais familiar a cada dia. Hoje me sinto em casa, e isso se deve a esse grupo de pessoas. Passei de um "menino do interior" a um "cidadão da UFPI". Venho vencendo meus medos, venho superando minhas deficiências, e eu não conseguiria fazer isso sozinho. Nas minhas multi-identidades, passei de um percebedor do folclore a um jovem pós-moderno. Me recondicionei ao mundo, virei outro, mas um outro tão igual a mim.

Queria dizer algo a todos, e a cada um em particular, mas falta espaço e faltam palavras. Quando isso acontece, vou de Torquato Neto, aquele que fala o que eu não sei dizer:

eu acho tudo muito legal
mas a verdade
é que o nome normal disso aí
é:
s-a-u-d-a-d-e

Dizer as coisas que eu não disse. Dizer que li muito mais do que imaginava, para tentar, pelo menos, alcançar o nível de leituras que eu observava. Dizer que os encontros extra-universidade que eu faltei, bem como os que vou faltar (peço que me entendam, peço desculpas por ser assim), se devem mais à minha patológica constituição anti-social que a qualquer falta de afeto pela turma. Afeto esse que eu sou limitado demais, desajeitado demais pra expressar. Dizer que eu não sei dizer OBRIGADO como deveria, por tudo.

Aos colegas, com carinho.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Um Astro volta a reinar na televisão brasileira



Em tempos de crise criativa na televisão brasileira, chega a ser surpreendente que um dos lugares mais promissores para a inovação passa a ser o dos remakes. Nessa afirmação não há qualquer ironia, e sim um extremo encantamento com a nova maneira encontrada pela TV de reler seus clássicos, transformando-os em grandes homenagens a um gênero cultuado Brasil e mundo afora. Assim foi com a magistral Ti Ti Ti, onde Maria Adelaide Amaral celebrou não apenas a obra de Cassiano Gabus Mendes, e sim a telenovela com um todo. Assim tende a ser, também, a nova grande empreitada da TV Globo. Vem aí O Astro.

Primeira experiência do que pode ser uma nova forma de fazer dramaturgia na Rede Globo, o remake da obra clássica de Janete Clair, sucesso imortal de 1977, estreia na televisão dia 12 de julho, no horário posterior ao da novela das 9. Com classificação indicativa de 16 anos, permitindo, portanto, cenas mais fortes, e o aprofundamento de temas nem cogitados na sua versão original, o trabalho de adaptação fica a cargo de Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, assessorados pelos colaboradores Tarcísio Lara Puiati e Vitor de Oliveira (o queridão entrevistado aqui mesmo, nesse blog). A direção de Roberto Talma e Mauro Mendonça Filho promete trazer uma história atual, mas com todos os elementos que fizeram da carpintaria de Janete Clair a mais propalada entre os fãs de novelas.

A grande novidade fica por conta do formato. A história será contada em condensados 60 capítulos, permitindo uma redução no número de personagens e cenários, bem como uma maior densidade nas cenas. Uma macrossérie ou uma mininovela? Os dois, talvez. Prefiro ver como uma novela que trará - analisaremos no futuro - uma nova maneira de fazer dramaturgia. Menos é mais, já diriam os outros.

A trama de O Astro obedece ao padrão janetiano que, assim como os clássicos teatrológicos de Shakespeare e literários de Machado de Assis, serão atuais sempre. Conta a saga de Herculano Quintanilha, de desventurado golpista no interior do Brasil, a alto diretor das Organizações Hayalla. Sua escalada passa pela transformação de um estelionatário cheio de falhas em um vidente de projeção internacional, guru de milhares e milhares de pessoas, através de seu show de ilusionismo e de sua lábia envolvente. Encontrando-se com Márcio Hayalla, filho rebelde de uma rica família à beira do esfacelamento, acha o ponto ideal para crescer e transformar-se em alguém realmente poderoso.

Uma parábola sobre os limites da honestidade humana, a obra de Janete Clair torna-se mais ousada na atualidade. Com cenas de sexo fortes, insinuações de bissexualismo, efeitos especiais que tornam os shows de Herculano espetáculos à parte, e diálogos com alto teor de dramaticidade, retoma a velha e eterna forja de telenovelas. O Astro pode nos permitir enxergar o quão simples é o que falta em nossa dramaturgia atual: emoção, entrega, fascínio. Estaremos todos rendidos aos encantos de Herculano Quintanilha, Lili, Amanda Mello Assunção, Márcio, Clô e Salomão Hayalla, queremos ser enganados e surpreendidos, rir e chorar por eles.

#será?