terça-feira, 2 de agosto de 2011

Os muitos Aguinaldos




Aguinaldo Silva não é mais o mesmo. Não a pessoa, mas seu "em-si" escritor, o que pode até ser a mesma coisa, mas enfim. Não é mais o mesmo. Uma aura, provavelmente codinomeada Consuelo Meirelles se apossou de seu corpo, tem mais ou menos uns sete anos, e ele não é mais o mesmo. Assim como Maria do Carmo Ferreira da Silva não é Waldomiro Cerqueira; Adalberto Rangel não é Paulo Della Santa; Marconi Ferraço não é Denizard de Mattos; Nazaré Tedesco não é Perpétua; Lara Romero não é Rubra Rosa. As coisas são outras, completamente diferentes.

Assim como Waldomiro, Maria do Carmo veio do Nordeste, como retirante, tentar a sorte no Rio de Janeiro. Tal qual ele, lutou e sofreu pra se firmar. E, como ele, cresceu, apareceu, venceu na vida. Waldomiro era pai de Maria Regina; Maria do Carmo, de Reginaldo. Coincidência, não? Não! Mas dizer que se copiou receitas é pecado. Pecado mortal. Porque o tempo era outro, e a História, assim como as histórias, não se repete. Suave Veneno foi a tentativa mal-fadada de provar que nem tudo se resumia a regionalismos. Senhora do Destino foi a tentativa bem-sucedida de dizer "chega" (tal qual Gioconda) às mulher voando, homens caindo no poço e indo parar no Japão, mulheres de branco e cadeirudos. Ou não.

Adalberto nasceu pobre, como Denizard. Seu duplo, no entanto, era rico, riquíssimo. Mas se Paulo Della Santa era um mero sósia de Denizard, Marconi Ferraço era o próprio Adalberto, deformado e reformado. Se, em O Outro, Glorinha da Abolição queria apenas revelar a verdade sobre os idênticos, em Duas Caras, Maria Paula queria vingança contra aquele que, embora parecesse diferente, era o mesmo. Se vingou, mas o amou no final. E a ambiguidade superou, enfim, o maniqueísmo e o politicamente correto.

Nazaré e Perpétua são grandiloquentes. Uma é "raposa felpuda", lasciva. Roubou a filha de uma desconhecida para segurar um homem, e garantir seu futuro. Quando esteve prestes a ver seu segredo revelado, assassinou, e culpou a escada. Tudo, claro, sem perder o bom-humor - e o fogo. A outra, ao contrário, é reprimida, coitada. E denunciou a irmã, Tieta, expô-la ao ridículo, por mais de uma vez, punindo-a por ser tudo aquilo que ela mesma não teve coragem. Para extravasar seus sintomas de mal-amadismo, reprimiu outras mulheres, enquanto guardava, num singelo relicário, as mais felizes lembranças de seu marido...

Se Rubra Rosa se angustia por não ser rubro seu sangue, e sim azul, Lara (com ou sem Z) já superou este dilema. Afinal, de que adiante pedigree sem reconhecimento? Essa de escrever discursos pro amante, e não aparecer como a intelectual por trás do corrup... digo, político, não está com nada. Cadê os holofotes, gente? A imprensa, a mídia, o bafo? Eu sei que Tupiacanga não é Hollywood, mas como a Internet e o Photoshop, dá-se um jeito em tudo.

Aguinaldo, enfim, não é mais o mesmo. E o que seria dele se fosse? O que seria do mundo virtual sem suas declarações bombásticas? Nós adoramos criticá-lo e aplaudi-lo, não necessariamente nessa ordem. Aliás, Fina Estampa vem aí, para exercitarmos tanto o arremesso de ovos e tomates, quanto o coro de "vivas". Não há notícias, pelo menos eu não tenho, de um escritor que tenha divulgado, de livre e espontânea vontade, pra todo mundo, o roteiro de um filme que ele escreveu, e que nem ainda saiu. Gente com esse grau de ousadia merece, no mínimo, ser considerada.

Um abraço

3 comentários:

  1. Eu curto bastante o "aguinaldo escritor", com poucas exceções, gosto de quase todas as novelas dele! Já o "aguinaldi pessoa" parece ser muitas vezes pedante, falta um pouco de humildade. Parabéns pelo blog! Excelente :D

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  2. Muita preguiça do Aguinaldo...
    Um dos melhores textos da TV, sem dúvida. Mas diante desse festival de escrotice, o talento ficou apagado. Uma pena.

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  3. Aguinaldo criou um personagem pra si mesmo e mergulhou nele, assim como Suzana Vieira, sua gêmea bivitelina. É triste quando um autor resolve que é mais importante aparecer do que ser competente, como no caso dele.

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