quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Além do óbvio ululante que pulula nas mentes humanas

* Antes que geral me chame de um plagiador sem vergonha, eu mesmo me acuso: este título já foi usado em uma revista da Mônica. Grato.

João Paulo colocou o ponto final. Terminara, enfim, seu livro! \o/ Gravou as 225 páginas no pendrive e saiu, empolgadíssimo. Agora era arranjar uma editora e publicar. "Meu primeiro livro de muitos!", pensou ele. João Paulo tinha 18 anos, tava no primeiro período da faculdade, mas sempre foi inteligente. Nunca foi de sair, adorava ler, e sempre gostou de escrever. Os pais apoiavam, e tal. Mas ele sempre foi mais obsessivo que qualquer um em casa. Era um intelectomaníaco.

Chegou pro pai. Era sábado, o pai não trabalhava hoje. Podia ler, nem que fosse um capítulo, e constatar sua genialidade. O pai olhou, na tela do PC.

- Hum... filho... que bom! [pai sem saber o que dizer] Mas assim, o livro fala de quê mesmo?

- Pai, é um romance! - dizia João Paulo, empolgado, querendo esconder o balde de água fria que acabara de levar.

- Hã... legal. Muito legal! Mas eu senti falta do mocinho. Cadê o mocinho?

- Pai, não tem mocinho. É um romance contemporâneo. Ou melhor, pós-moderno.

- Hãã... [pai sem saber MESMO o que dizer]

- Assim... eu tento desreferencializar a noção de sujeito. O mocinho está em todas as partes. Em determinados momentos ele é o carteiro, noutros é a prostituta, noutros é o cachorro... aqui, na terceira páginas do capítulo 3, é o poste. Não é o máximo?

O pai: "Ahhhhh... [não entendeu patavina] É, é o máximo sim! Olha, deixa aí que eu termino de ver depois, tá?"

Pai não entende nada de literatura...

Resolveu a mãe. A mãe era uma pessoa mais simples, mas menos ligada a esses clichês. O pai cresceu nas matinês, e achava que toda espécie de ficção se resumia nos caubóis italianos que adorava assistir. Parou e pensou... não, a mãe vivia vendo novela. Ia querer ver a superação da mocinha e as armações da vilã. Fora de cogitação.

Mãe não entende nada de literatura...

Lembrou do César, seu melhor amigo. Na verdade, o César era seu único amigo DE VERDADE. Aquele que compartilhava com ele do mesmo gosto por literatura, por cinema francês e por revista de mulher pelada, mas sem aquela apelação comercial da Playboy. Sacumé, né? O César sacava dessas coisas, tinha sensibilidade.

César abriu o arquivo no note e começou a ler. Adorou o título. Começou a ler o capítulo 1. Segundos e o César fala:

- Ô Jotapê, cê não acha que tá muito clichê, não?

- Cumequié?

- É! Cara, nesse trecho aqui a puta dá pro carteiro, e TÁ NA CARA que eles vão ficar juntos no fim. Tô mentindo?

João Paulo está com ódio de si mesmo, porque, sim, a puta vai terminar com o carteiro.

- Não, Cezão. Não tá.

- E o cachorro, aqui? Essa relação dele com o poste, eu achei uma metalinguagem meio fraca. E a metáfora da cidade como monstro já foi usada. A gente não leu o Leviatã?

- É...

- Cara, acho que dá pra mexer. Mas assim... a proposta tá legal. Tu só tem que ver melhor esses clichês aí. E tem coisa que tu pode ser acusado de plágio. Se liga.

O César entendia DEMAIS de literatura. Que merda!

João Paulo decidiu largar mão de ser escritor. E cineasta também, que era seu segundo gosto, depois que viu todos os filmes do Godard. Mas pensou melhor, depois que leu um romancezinho de banca de jornal que Edilene, a empregada, comprava, pra recortar a capa e colar num diário. Teve um insight. Voltou pro PC e começou a escrever um livro novo: a mocinha era uma dama da sociedade britânica, aprisionada num castelo pelo padrasto, mas tinha o mocinho, um pirata regenerado, que se apaixonara perdidamente pela sua imagem numa pintura...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

BBB12: a Navilouca de George Orwell pronta pra zarpar de novo



Enfim, acabou o suspense. Depois de semanas de especulação, Boninho cansou de seu esporte favorito - causar expectativa - e, finalmente, divulgou a lista dos 12 participantes do Big Brother Brasil 12: a 12ª edição do reality show, que ocorre no ano de 2012, e tem 12 participantes. Um número cabalístico? Ou apenas uma coincidência? Pra mim, nem uma coisa nem outra. Os apenas 12 participantes da nova edição do BBB (após anos em que o número de brothers crescia em progressão quase geométrica) reflete uma tendência do marketing do programa esse ano: um retorno às origens.

Afinal, o que o BBB12 quer fazendo um retorno ao perfil de seus primeiros números? Primeiro, é um reflexo do desgaste que a pirotecnia causa em um formato. Você tem um programa que dá certo, aí, na edição seguinte, faz crescer a quantidade de gente, inventa um sem número de provas, de novas regras e de et céteras e... esquece o mais importante: GENTE INTERESSANTE.

Pelo jeito, Boninho quis fugir do scargot, e aptou pelo bom e velho feijão-com-arroz com um bife em cima - simplicidade que trás sustância. Em vez de estereótipos como o travesti, a transexual, o monge, entre outros, preferiu gente mais comum, do tipo que se vê na rua. Ok... a maioria parece ser de classe média, são rostinhos bonitos, já fizeram ensaios sensuais ou coisa do gênero. Mas é Big Brother, né? Gente bonita, falante e barraqueira são a alma do programa.

Na 12ª edição, temos ex-coelhinha da Playboy, uma belíssima lésbica, um professor de muay thay, uma arte-educadora com cara de pós-moderna, uma nordestina... e todos bonitos e, aparentemente, interessante. Se a estratégia foi não chocar o público com gente excessivamente polêmica, Boninho conseguiu. Só precisa provar que a turma que aí está não será apática, e demonstrará carisma na hora do "vamos ver". E, considerando a edição passada, onde todo mundo "veio pra causar", e deu no que deu, eu prefiro acreditar mais no grupo que aí está.

Bom... é impossível ver o BBB sem se lembrar dos velhos gladiadores romanos. É fato que veremos 12 pessoas se degladiarem psicologicamente em uma casa. Também vale lembrar da Stutisfera Navis, o navio onde eram jogados os loucos na Idade Média. E, por fim, de George Orwell e seu "1984", a inspiração intelectual do programa. Misture tudo isso com uma pitada de sensacionalismo barato, travestido de coisa elegante pelas câmeras globais, e teremos mais uma edição de um dos programas mais assistidos do país. Que pode não estar em seu momento mais criativo, mas, acredito eu, pode estar apostando em uma opção acertada.

Sinceridade? Eu não vou perder.