segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

15 tons de Glee



Já é de conhecimento geral que eu sou fã de Glee. Desde que assisti ao primeiro episódio da série – na Globo, praticamente com zero conhecimento a respeito – me apaixonei por muitos fatores: o de se tratarem de atores completos, que cantam, dançam e interpretam; por ser umas série musical, gênero que sempre me agradou; e por ter uma trama que trata de uma série de dramas humanos, que vão da gagueira falsa ao homossexualismo – tudo isso intricado com elementos de folhetim: triângulos amorosos, viradas, vilanias, heroísmos, superações, etc.

 

Para os não iniciados na série, ela conta a história de Will Schueter (Matthew Morrison), um professor idealista que, ao começar a dar aulas na escola William McKinley, em Lima (Ohio), pretende remontar o Clube Glee, um coral que existiu nessa instituição no passado. Sem o apoio da direção, da maior parte do corpo docente – tendo especial repulsa por parte da treinadora de líderes de torcida Sue Silvester (Jane Lynch) –, nem mesmo da maioria dos alunos, o Glee passa a ser formado, inicialmente, por alunos excluídos na escola: a convencida Rachel (Lea Michele), a líder de torcida Quinn (Diana Agron), o popular Finn (Cory Montaith) – que termina por sofrer a exclusão dos demais colegas –, a descendente de orientais Tina (Jenna Ushkowitz) – que finge ser gaga para parecer estranha –, a negra Mercedes (Amber Riley), o bissexual Blaine (Darren Chris), o paraplégico Artie (Kevin McHale), e Kurt (Chris Colfer), que luta contra os próprios fantasmas para assumir sua homossexualidade. Mais adiante, o clube, que passa a se chamar New Directions, ganha a participação do tímido Mike (Harry Shum Jr.), do preconceituoso jogador de futebol americano Puck (Mark Salling), o disléxico Sam (Chord Overstreet), e, por fim, Brittany (Heather Morris) e Santana (Naya Rivera), líderes de torcida que entram no Glee para destruí-lo, a mando de Sue, mas terminam integrando-se de verdade a ele.

 

Pensando na série, resolvi desenvolver uma “sentimental list”, com minhas 15 performances musicais prediletas do programa (lembrando que é uma lista pessoal, e muitas das prediletas da grande maioria podem ter ficado de fora).

 

15. Lucky


 


Essa entra na lista por ser uma versão “fofa” do sucesso cantado por Jason Mraz e Colbie Caillat nas vozes de Sam e Quinn. Ele, um garoto vindo de um internato para rapazes, e por isso com muita dificuldade de relacionamento com as mulheres, e ela vinda dos traumas de amores mal resolvidos e de uma gravidez precoce. O clima “cute” impera no clipe, e marca a troca de olhares entre o casal.

 

14. Big Girls Don’t Cry


 


Significativa pro perfil – ora mandão, prepotente, ora doce – de Rachel, a readaptação de Fergie, onde Blaine e Kurt a acompanham se torna clássica. Ganha, considerando a personagem em questão, a mensagem de que grandes garotas, como ela, não choram, não devem se preocupar com a opinião alheia.

 

13. Don’t You Want Me


 


A música do Human League caiu bem num episódio que enfocou tanto os efeitos do alcoolismo quanto um clima de affair entre Rachel e Blaine. O dueto teve um ar de “pegação musical”, com destaque para o chambre verde de Rachel, e para Santana chorando bêbada. Surreal!

 

12. True Colors


 

Classicão de Cyndi Lauper, que depois ganharia versão na voz de Phill Collins, ficaria muito bonito na voz de Tina, em um episódio em que aparece sua relação com Artie. Não sei se sou eu que vejo coisas demais, mas interpreto a música como Tina cantando à diversidade, às “cores verdadeiras” que cada um guarda dentro de si – e nisso extrapolando a barreira da beleza física.

 

11. Total Eclipse of the Heart




Clipe bonito, protagonizado por Rachel, e que bem representa sua relação tensa com os outros membros do clube Glee. Nesse episódio, a personagem confessa sua “patologia por querer se tornar popular”, tentando usar Jesse, seu namorado, Finn e Puck como pares no clipe, perdendo o amor e a amizade dos três.

 

10. We Are Young




A música trás tom de união a um grupo tão plural. Percebe-se o outro lado da personalidade de Rachel – o convergente, que consegue trás luz e gás ao grupo. Talvez esteja aí a grande marca do clipe pra mim.

 

09. One of Us




O clipe é uma clara alusão ao original de Joan Ousborne. Remetendo à questão religiosa, a partir do misto-quente que Finn faz o favor de tostar, e onde aparece a imagem de Jesus Cristo, a série toca no espinhoso tema da diversidade religiosa. O episódio no qual o clipe está inserido remete à própria ideia de fé, relacionada com o afeto, resultante da difícil relação entre Kurt e seu pai, que sofre um ataque cardíaco e entra em coma. Destaque para os agudos de Mercedes. Míticos!

 

08. Bohemian Raphsody




Em geral, as músicas do Queen são uma grande covardia. Ainda mais quando é cantada por uma apresentação indefectível de Jesse no Vocal Adrenaline, assistido de longe por Rachel, sua namorada (ou ex-namorada?) – enquanto, num hospital, todos os outros acompanhavam Quinn entrar em trabalho de parto.

 

07. Somebody That I Used to Know


 
O sucesso de Gotye (que bem criticou a versão feita pelo Glee) foi cantada num episódio centrado na relação entre Blaine e seu irmão, o ator famoso Cooper Anderson (interpretado por Matt Bromer, em participação especial). Tendo sempre crescido à sombra do irmão mais velho, Blaine se ressente dele – principalmente quando aparece no McKinler, num local onde ele, Blaine, é uma das estrelas. A música e o clipe representam bem a relação dos dois

 

06. ABC




Um dos clipes mais pra cima de toda a série! Gosto muito quando Tina protagoniza a coisa, nesse caso ao lado de Kurt e Mike, que mostra aí o quanto é talentoso. Mas, na v verdade, não teve ninguém que não teve seu espaço nessa apresentação. O New Directions mostrando sua evolução na apresentação em uma competição, e fazendo homenagem aos Jackson é imperdível!

 

05. Don’t Stop Believin


 


O primeiro grande clipe do programa, onde Finn, Rachel, Artie, Tina, Mercedes e Kurt mostram, no apagar das luzes, ao Prof. Will que sim, queriam integrar o Glee. Enquanto isso, são observados por Puck, que ainda não havia tido coragem de assumir seu desejo de integrá-lo, bem como por Sue, Santana e outra líder de torcida. A música e sua apresentação positiva trazem a grande mensagem da série: “nunca deixe de acreditar!”.

 

04. I Have Nothing




Não consigo não me emocionar com Kurt. A meu ver, um dos personagens mais fortes da série, sem dúvida com a grande colaboração da interpretação competente e extremamente expressiva de Chris Colfer - o que só se confirma na apresentação da canção de Whitney Houston. Mas Kurt se oferece para cantar, e dá um show, como fica claro no vídeo (fora a troca de olhares com Blaine, que mostra a relação instável entre os dois).

 

03. I Want I Hold Your Hand




Se é que é possível escolher um, acho esse o solo mais emocionante do Kurt. É, sem dúvida, a música que canta para seu pai – acompanhado de belas imagens, em forma de flashback, mostrando a relação dos dois quando o garoto ainda era criança – e no olho do furacão da revelação de sua homossexualidade.

 

02. The Scientist




Como não chorar com esse clipe? Se a versão original, do Coldplay, é emocionante, o que dirá esta, contextualizada num episódio de final de ciclo em Glee, que termina com o rompimento de vários dos casais da série? O clima de “adeus” tomou conta de todos os personagens, o que combina com o tom de arrependimento presente na letra da música. Tocante é pouco!

 

01. Rumour Has It / Someone Like You




Minha apresentação predileta de todo o programa. Em geral, curto muito assistir essas coreografias femininas. O tom me lembrou muito os musicais americanos dos anos 60 e 70. O contexto é o da crise de identidade sexual de Santana, bem como da demonstração de suas fragilidades – o que a tira do lugar de vilã e a coloca em posição de protagonista na trama por vários episódios. Adele caiu bem, tanto em sua crise, quanto no tom de diva que está presente sempre nas apresentações de Mercedes.


Gostaram da lista? Comentem e compartilhem suas performances prediletas.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

As cores de Almodóvar


Para muitos, existe uma linha tênue que separa os bons e os maus estilos cinematográficos. Para outros, não existe linha nenhuma, e um "clássico cabeça" pode ser horrível, enquanto um filme feito com orçamento mínimo e atores não-profissionais pode ser excelente. Caminhando sobre essa linha tênue, sempre dividido entre cenários de cores fortes, cenas de sexo marcantes (quando não explícitas) e histórias melodramáticas, está Pedro Almodóvar, diretor de clássicos como A Lei do Desejo, Ata-me, De Salto Alto, Kika e Carne Trêmula.

 

Ao assistir Victoria Abril protagonizar uma cena de sexo dirigida pelo diretor, que conta com as suas características centrais - a explicitude, o cenário fortemente colorido e a trilha sonora espanhola - parei pra pensar o quanto elementos presentes na arte cinematográfica, e que pode significar vulgaridade ou mau gosto, ganha um contorno diferente nas mãos de quem bem sabe o melhor posicionamento da câmera, iluminação e expressões performáticas dos atores. Talvez seja a característica central de Almodóvar praticar o suposto kitsch como forma de pôr a prova os conceitos centrais de belo e de feio, de moral e de amoral, em termos de arte cinematográfica – e, quiçá, da arte de uma maneira geral.

 

Tendo sido responsável por lançar a Hollywood vários atores hoje de renome – do qual o maior exemplo é Antonio Banderas, que também se aproximar de seu estilo nas iniciativas como diretor, como no caso de O Caminho dos Ingleses –, além dos Oscares de melhor filme estrangeiro, com Tudo Sobre Minha Mãe (1999) e de melhor roteiro original com Fale com Ela (2002), Almodóvar é a prova da relatividade do gosto e dos preceitos mais fundamentais da arte. Mostra que não há padrões estéticos que a tudo contemplem, tampouco formatos que abarquem obras de complexidade marcante.

 

Há de ser relativo.