quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

As cores de Almodóvar


Para muitos, existe uma linha tênue que separa os bons e os maus estilos cinematográficos. Para outros, não existe linha nenhuma, e um "clássico cabeça" pode ser horrível, enquanto um filme feito com orçamento mínimo e atores não-profissionais pode ser excelente. Caminhando sobre essa linha tênue, sempre dividido entre cenários de cores fortes, cenas de sexo marcantes (quando não explícitas) e histórias melodramáticas, está Pedro Almodóvar, diretor de clássicos como A Lei do Desejo, Ata-me, De Salto Alto, Kika e Carne Trêmula.

 

Ao assistir Victoria Abril protagonizar uma cena de sexo dirigida pelo diretor, que conta com as suas características centrais - a explicitude, o cenário fortemente colorido e a trilha sonora espanhola - parei pra pensar o quanto elementos presentes na arte cinematográfica, e que pode significar vulgaridade ou mau gosto, ganha um contorno diferente nas mãos de quem bem sabe o melhor posicionamento da câmera, iluminação e expressões performáticas dos atores. Talvez seja a característica central de Almodóvar praticar o suposto kitsch como forma de pôr a prova os conceitos centrais de belo e de feio, de moral e de amoral, em termos de arte cinematográfica – e, quiçá, da arte de uma maneira geral.

 

Tendo sido responsável por lançar a Hollywood vários atores hoje de renome – do qual o maior exemplo é Antonio Banderas, que também se aproximar de seu estilo nas iniciativas como diretor, como no caso de O Caminho dos Ingleses –, além dos Oscares de melhor filme estrangeiro, com Tudo Sobre Minha Mãe (1999) e de melhor roteiro original com Fale com Ela (2002), Almodóvar é a prova da relatividade do gosto e dos preceitos mais fundamentais da arte. Mostra que não há padrões estéticos que a tudo contemplem, tampouco formatos que abarquem obras de complexidade marcante.

 

Há de ser relativo.

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