Se embrenhar pelas matas obscuras do mundo acadêmico não é tarefa fácil. Pois é. Eu tenho tentado. São estranhos (des)caminhos, passagens incertas, pontes meio bambas, e, certas vezes, uma estrada meio invisível. Mas o lugar onde se quer chegar, esse sim, é possível observar de qualquer ponto do caminho. Isso, porém, não faz o percurso parecer mais fácil.
Sob esta enxurrada de metáforas e eufemismos, o certo é que tenho trilhado o caminho dos tijolos dourados, rumo a um objetivo. A princípio, "caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento", "ao sabor do vento", e sem muita responsabilidade sobre a chegada. Mas a trilha foi se tornando mais clara, e as possibilidades de chegar ao destino desejado também. E fui me apaixonando por essa caminhada. Ao longo dela, fiz amizade com aqueles que, como eu, trilhavam o mesmo caminho. Muitos (e talvez eu mesmo) olhavam para os outros, a princípio, pensando em derrubá-los na próxima ponte cabaleante. Mas, quer saber? Melhor é caminhar junto, e compartilhar, ao longo do caminho, das paisagens e da expectativa. Que delícia é ter companhia pra passar nervoso, pra roer a unha, pra esperar por aquele que não marcou de vir (naquele momento)! Por vezes, quase caí na areia movediça. Mas me estenderam a mão: justo aqueles que poderia me deixar ali, sendo consumido pela terra traiçoeira. O que seria melhor pra eles, claro. Mas, talvez, aqueles que junto comigo faziam a travessia, estavam pensando como eu.
Ao longo da jornada, muitos foram eliminados. É como um grande Big Brother, com 85 participantes. É, um jogo duro, duríssimo! A diferença é que 23 ganharão o grande prêmio. A gente olha pra trás, vê quanta gente ficou pelo caminho, e já se sente vitorioso. Eu cheguei aqui! Justo eu, aquele que pensava que tudo não passaria de uma grande brincadeira (de ET)!
Mas chega um ponto em que todo o caminho foi percorrido, e a fortaleza de gelo (ou de cristal, ou de ferro, ou, quem sabe, de guloseimas, como a casa de bruxa em João e Maria...) está de portas fechadas, prontas para abrir apenas para os escolhidos. Ah, os escolhidos... aqueles que penetrarão num caminho ainda mais difícil e tortuoso. Aquele que navegará por mares nunca dantes navegados. Mas delicioso de tão enigmático.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Que saudade dos 80!
Coisa ruim é chegar na festa justo no fim... Pois é. Aconteceu comigo. A festa era ploc: tudo era colorido, os cabelos eram deliberadamente crespos. As mulheres usavam bustiês. As crianças dançavam músicas de Xuxa e Angélica, e nem elas nem seus pais estavam se importando com seu alto teor erótico. Na TV, em plena sessão da tarde, os peitos femininos pululavam no filminho. Noutra TV, um grupo de moleques jogava videogame num Atari. Bem ali, num cantinho escuro, os pré-adolescentes olhavam escondidos a playboy que mostrava Ísis de Oliveira, literalmente, de cabo a rabo. Na pista de dança, um grupo de adolescentes se requebrava ao som de Legião Urbana, Blitz, Kid Abelha, Barão Vermelho, Metrô... Mais tarde, as mamães se reuniam no sofá da sala para assistir (e comentar) a história de Jocasta, apaixonada por Édipo, que era seu filho.
Nasci em 1989, justo no fim da festa que foram os anos 80. Tudo podia numa época que suscedia os duríssimos "anos de chumbo". O fim da ditadura trouxe ao Brasil o símbolo da liberdade (e, por que não, da libertinagem), expressa nos programas de TV, cada dia mais saidinhos, no colorido das roupas, nas atitudes, nos falares. Os pais de crianças nos anos 80 eram filhos de homens e mulheres conservadores, católicos fervorosos. Muitos, membros da TFP (sabe o significado da sigla? Não? Dá um Google, rapaz!). Depois de uma infância e uma adolescência regrada, restrita, resolveram "liberar geral". Seus filhos podiam tudo! E brincavam soltos, assistam, dançavam, cantavam, vestiam o que queriam.
As menininhas queriam ser a Xuxa - usar seus cabelos amarrados dos dois lados, usar seus microshorts e cantar o Ilariê. Os meninos também queriam Xuxa, mas em outro sentido... e nesse mesmo sentido, queriam também Sandra Bréa, Cláudia Raia, Luciana Vendramini, Luiza Brunet, Cláudia Ohana... ai! Os mais novos, não tavam nem aí: queriam mais era assistir o Balão Mágico toda manhã. E o Bozo? Mania nacional!
Aos domingos, todo mundo ia tomar suas doses diárias de cultura trash assistindo o Chacrinha, e acompanhando ele tocar uma corneta insuportável no ouvido dos calouros ruins, entregando-lhes um abacaxi. Todos adorávamos ver Elke Maravilha, as chacretes, e as novas bandas, que tiveram sua primeiríssima oportunidade no palco do Velho Guerreiro. Mais tarde, "é Fantástico!". Breguinha toda vida, as mulheres saindo de dentro d'água ao som da música de abertura que embalava os atores da Globo cantando sucessos nacionais, as novidades da ciência e o fim da corrida especial, em plena Guerra Fria.
Esqueci de alguém? Claro! Ninguém também perdia os Trapalhões. E todos assistíamos às impagáveis peripêcias de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Só mais tarde percebemos que as verdadeiras estrelas, ao desaparecerem, deixavam outras sem luz própria...
Durante a semana, quando a noite chegava, mais uma vez, todos estavam diante da TV. E dá-lhe a melhor safra de novelas de todos os tempos: às 19h, acompavam-se os sucessos de Sílvio de Abreu e Cassiano Gabus Mendes. Quem não lembra da cena em que Charlô e Otávio se emporcalhavam na mesa de café-da-manhã em Guerra dos Sexos? Ou as alfinetadas de Jacque L'eclair e Victor Valentin na 1ª versão de Ti Ti Ti? Quem não tentou sacudir o relógio igualzinho o Sinhozinho Malta, dizendo "tô certo, ou tô errado?". E quantos de nós nos dividimos entre a honestidade de Raquel Acciolli e as adoráveis sacanagens de Maria de Fátima, em Vale Tudo?
Ah, os anos 80... quem era criança mal podia esperar as férias. Pé na tábua! Todos viajam para a casa da vovó, no interior, onde podiam correr com os pés descalços, banhar no rio, fazer brinquedo de papel, brincar de pega-pega ou de pique-esconde. E quando dava briga? Chororô geral, mas tudo se resolvi ali. Ninguém corria pra contar pro pai. E quando dava beijo? Era pêra, uva, maçã... mas tinha também quem escolhesse a salada-mista. Sorte dos garotos saidinhos quando aparecia uma menina espevitada...
E os desenhos? Quem nunca assistiu ao He-Man e à She-Ra? Aos Thundercats? Ao Capitão Caverna? Ao Manda-Chuva? À Família Buscapé?
E os jogos? Quem nunca bateu cabeça com o Genius? Quem não lembra do Odissey, concorrente do Atari?
E as lendas urbanas? Todo mundo tinha medo de ir no banheiro do colégio, temendo ser atacado pela loira do banheiro. Comer o pirulito do Zorro? Nunca! Quando os pais davam às costas, todo mundo ia rodar ao contrário o disco da Xuxa ou do Menudo, pra saber se tinha mesmo ali uma mensagem satânica. E quem tinha o boneco do Fofão mantinha-o bem longe da cama, à noite...
É. Acreditavam no Brasil. E todo jovem que era jovem era também engajado. Todo mundo cantou junto com Cazuza no Rock in Rio, quando esse enunciava "que o dia nasça feliz pra todo mundo amanhã". No amanhã que Cazuza previa, o Colégio Eleitoral elegeria Tancredo Neves, e a esperança da redemocratização tornava-se mais sólida. Todos queriam ser os descamisados do Collor, ou cantar o "Lula Lá". Dois anos depois, os mesmos que entoaram os jingles eleitorais entoavam o Hino Nacional, vestidos de preto e pintados de verde e amarelo, gritando "Fora Collor!".
Quem viveu os 80 jamais esquecerá os melhores anos de sua vida. Quem não viveu tem saudade. Saudade e inveja. Inveja daqueles que eram felizes e não sabiam. E têm de amargar uma época irritante de tão politicamente correta...
Nasci em 1989, justo no fim da festa que foram os anos 80. Tudo podia numa época que suscedia os duríssimos "anos de chumbo". O fim da ditadura trouxe ao Brasil o símbolo da liberdade (e, por que não, da libertinagem), expressa nos programas de TV, cada dia mais saidinhos, no colorido das roupas, nas atitudes, nos falares. Os pais de crianças nos anos 80 eram filhos de homens e mulheres conservadores, católicos fervorosos. Muitos, membros da TFP (sabe o significado da sigla? Não? Dá um Google, rapaz!). Depois de uma infância e uma adolescência regrada, restrita, resolveram "liberar geral". Seus filhos podiam tudo! E brincavam soltos, assistam, dançavam, cantavam, vestiam o que queriam.
As menininhas queriam ser a Xuxa - usar seus cabelos amarrados dos dois lados, usar seus microshorts e cantar o Ilariê. Os meninos também queriam Xuxa, mas em outro sentido... e nesse mesmo sentido, queriam também Sandra Bréa, Cláudia Raia, Luciana Vendramini, Luiza Brunet, Cláudia Ohana... ai! Os mais novos, não tavam nem aí: queriam mais era assistir o Balão Mágico toda manhã. E o Bozo? Mania nacional!
Aos domingos, todo mundo ia tomar suas doses diárias de cultura trash assistindo o Chacrinha, e acompanhando ele tocar uma corneta insuportável no ouvido dos calouros ruins, entregando-lhes um abacaxi. Todos adorávamos ver Elke Maravilha, as chacretes, e as novas bandas, que tiveram sua primeiríssima oportunidade no palco do Velho Guerreiro. Mais tarde, "é Fantástico!". Breguinha toda vida, as mulheres saindo de dentro d'água ao som da música de abertura que embalava os atores da Globo cantando sucessos nacionais, as novidades da ciência e o fim da corrida especial, em plena Guerra Fria.
Esqueci de alguém? Claro! Ninguém também perdia os Trapalhões. E todos assistíamos às impagáveis peripêcias de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Só mais tarde percebemos que as verdadeiras estrelas, ao desaparecerem, deixavam outras sem luz própria...
Durante a semana, quando a noite chegava, mais uma vez, todos estavam diante da TV. E dá-lhe a melhor safra de novelas de todos os tempos: às 19h, acompavam-se os sucessos de Sílvio de Abreu e Cassiano Gabus Mendes. Quem não lembra da cena em que Charlô e Otávio se emporcalhavam na mesa de café-da-manhã em Guerra dos Sexos? Ou as alfinetadas de Jacque L'eclair e Victor Valentin na 1ª versão de Ti Ti Ti? Quem não tentou sacudir o relógio igualzinho o Sinhozinho Malta, dizendo "tô certo, ou tô errado?". E quantos de nós nos dividimos entre a honestidade de Raquel Acciolli e as adoráveis sacanagens de Maria de Fátima, em Vale Tudo?
Ah, os anos 80... quem era criança mal podia esperar as férias. Pé na tábua! Todos viajam para a casa da vovó, no interior, onde podiam correr com os pés descalços, banhar no rio, fazer brinquedo de papel, brincar de pega-pega ou de pique-esconde. E quando dava briga? Chororô geral, mas tudo se resolvi ali. Ninguém corria pra contar pro pai. E quando dava beijo? Era pêra, uva, maçã... mas tinha também quem escolhesse a salada-mista. Sorte dos garotos saidinhos quando aparecia uma menina espevitada...
E os desenhos? Quem nunca assistiu ao He-Man e à She-Ra? Aos Thundercats? Ao Capitão Caverna? Ao Manda-Chuva? À Família Buscapé?
E os jogos? Quem nunca bateu cabeça com o Genius? Quem não lembra do Odissey, concorrente do Atari?
E as lendas urbanas? Todo mundo tinha medo de ir no banheiro do colégio, temendo ser atacado pela loira do banheiro. Comer o pirulito do Zorro? Nunca! Quando os pais davam às costas, todo mundo ia rodar ao contrário o disco da Xuxa ou do Menudo, pra saber se tinha mesmo ali uma mensagem satânica. E quem tinha o boneco do Fofão mantinha-o bem longe da cama, à noite...
É. Acreditavam no Brasil. E todo jovem que era jovem era também engajado. Todo mundo cantou junto com Cazuza no Rock in Rio, quando esse enunciava "que o dia nasça feliz pra todo mundo amanhã". No amanhã que Cazuza previa, o Colégio Eleitoral elegeria Tancredo Neves, e a esperança da redemocratização tornava-se mais sólida. Todos queriam ser os descamisados do Collor, ou cantar o "Lula Lá". Dois anos depois, os mesmos que entoaram os jingles eleitorais entoavam o Hino Nacional, vestidos de preto e pintados de verde e amarelo, gritando "Fora Collor!".
Quem viveu os 80 jamais esquecerá os melhores anos de sua vida. Quem não viveu tem saudade. Saudade e inveja. Inveja daqueles que eram felizes e não sabiam. E têm de amargar uma época irritante de tão politicamente correta...
domingo, 7 de novembro de 2010
"Clandestinos" - O teatro como a TV nunca viu
"O palco é seu". Em noventa segundos, você tem a chance de mostrar o seu talento. Esse foi o princípio utilizado por João Falcão, em maio de 2008, para selecionar atores que estrelariam uma peça, então, em branco. Um trabalho que seria construído com e pelas histórias de cada um dos envolvidos no processo. Uma peça sobre os sonhos de centenas de amadores na selva de pedra que se tornou o mundo artístico. Loucura? Talvez sim. E muita gente pensou que fosse. Mas, na última quinta-feira, a "loucura" de João Falcão ganhou espaço na programação da Rede Globo em forma de série. Clandestinos - O sonho começou é a nova e inovadora série da emissora, que visa mostrar, com atores que interpretam a si mesmos, a história de centenas de sonhos em xeque, num palco, em noventa segundos.
Na metalinguagem proposta, Fábio (Fábio Enriquez) é o alter-ego do autor da série (escrita em parceria com Guel Arraes) que, com o sonho de escrever uma peça inovadora, conta com a ajuda da racional amiga e ex-namorada Elisa (Elisa Pinheiro). Selecionando atores, ele se depara com a vida e os sonhos de centenas de jovens, dos quatro cantos do Brasil.
Uma delas é Adelaide (Adelaide de Castro), mineira de Três Corações, a mais velha de sete irmãos, em uma família simples, que larga a cidade em busca do estrelato no Rio de Janeiro. Imaginando encontrar um artista em cada esquina, Adelaide depara-se com a impessoalidade da cidade grande. Acompanhada apenas de seu sonho e de seu saxofone, cai de cabeça no mundo-cão, que pode, porventura, transformar-se no céu cor-de-rosa que idealizou.
Logo no primeiro episódio, revemos também Giselle e Michelle Batista, as "gêmeas de Malhação", e a dureza de duas atrizes gêmeas em um mundo em que "basta um". Nos seguintes, novos protagonistas surgirão: a nordestina Chandelly, que esconde a origem e o sotaque, temendo ver sua oportunidade ir pelo ralo; Emiliano, o Pedro Bala, por sua vez abusando da "baianicidade" pra virar artista; a já atriz da Globo, Nanda Costa, dentre outros.
A ideia original, inovadora, tem muito daquilo que a televisão necessita nos dias atuais. O diálogo entre gêneros e mídias, que poderia ser a grande perdição do trabalho, mostrou, pelo menos no primeiro episódio, ser a grande vedete deste: a sensibilidade do teatro mostrada na massiva televisão, sem perder sua essência, mas tirando desse segundo meio aquilo que ele tem de melhor.
A sonoplastia foi perfeita. A trilha sonora de cada personagem parecia descrevê-lo. Belchior na primeira cena, Gilberto Gil e seu "Lamento Sertanejo" embalando os passos de Adelaide rumo à cidade grande, e a bela nova voz feminina entoando "Se eu quiser falar com Deus", ao som do sax da grande mocinha nessa estreia, emocionaram, fazendo-nos torcer, levando-nos a ser parte deste grande sonho que começava.
Clandestinos me trouxe à identificação imediata desde suas chamadas. A estreia me levou a, se é que era possível, uma identificação ainda maior. Cada um de nós poderia estar retratado nos personagens da série: com nossos sonhos, pelos quais lutamos, pelos quais temos as maiores expectativas. Quantas vezes não ficamos nervosos, esperando a ligação que nos trará a boa ou má notícia? Preferimos esquecer que ligariam... Também é horrível viver à sombra dos outros. Por outro lado, ainda há pessoas com desprendimento para abrir mão dos próprios sonhos em prol dos nossos. Devemos ou não aproveitar essa oportunidade? Quantas vezes nos pegamos desesperados, tocando nossos saxes imaginários, procurando falar com Deus, nosso único esteio em momentos difíceis? Não vale tudo para se alcançar nossos objetivos, mas vale sonhar alto. Um dia, o sonho pode se tornar realidade.
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