sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Que saudade dos 80!

Coisa ruim é chegar na festa justo no fim... Pois é. Aconteceu comigo. A festa era ploc: tudo era colorido, os cabelos eram deliberadamente crespos. As mulheres usavam bustiês. As crianças dançavam músicas de Xuxa e Angélica, e nem elas nem seus pais estavam se importando com seu alto teor erótico. Na TV, em plena sessão da tarde, os peitos femininos pululavam no filminho. Noutra TV, um grupo de moleques jogava videogame num Atari. Bem ali, num cantinho escuro, os pré-adolescentes olhavam escondidos a playboy que mostrava Ísis de Oliveira, literalmente, de cabo a rabo. Na pista de dança, um grupo de adolescentes se requebrava ao som de Legião Urbana, Blitz, Kid Abelha, Barão Vermelho, Metrô... Mais tarde, as mamães se reuniam no sofá da sala para assistir (e comentar) a história de Jocasta, apaixonada por Édipo, que era seu filho.


Nasci em 1989, justo no fim da festa que foram os anos 80. Tudo podia numa época que suscedia os duríssimos "anos de chumbo". O fim da ditadura trouxe ao Brasil o símbolo da liberdade (e, por que não, da libertinagem), expressa nos programas de TV, cada dia mais saidinhos, no colorido das roupas, nas atitudes, nos falares. Os pais de crianças nos anos 80 eram filhos de homens e mulheres conservadores, católicos fervorosos. Muitos, membros da TFP (sabe o significado da sigla? Não? Dá um Google, rapaz!). Depois de uma infância e uma adolescência regrada, restrita, resolveram "liberar geral". Seus filhos podiam tudo! E brincavam soltos, assistam, dançavam, cantavam, vestiam o que queriam.

As menininhas queriam ser a Xuxa - usar seus cabelos amarrados dos dois lados, usar seus microshorts e cantar o Ilariê. Os meninos também queriam Xuxa, mas em outro sentido... e nesse mesmo sentido, queriam também Sandra Bréa, Cláudia Raia, Luciana Vendramini, Luiza Brunet, Cláudia Ohana... ai! Os mais novos, não tavam nem aí: queriam mais era assistir o Balão Mágico toda manhã. E o Bozo? Mania nacional!


Aos domingos, todo mundo ia tomar suas doses diárias de cultura trash assistindo o Chacrinha, e acompanhando ele tocar uma corneta insuportável no ouvido dos calouros ruins, entregando-lhes um abacaxi. Todos adorávamos ver Elke Maravilha, as chacretes, e as novas bandas, que tiveram sua primeiríssima oportunidade no palco do Velho Guerreiro. Mais tarde, "é Fantástico!". Breguinha toda vida, as mulheres saindo de dentro d'água ao som da música de abertura que embalava os atores da Globo cantando sucessos nacionais, as novidades da ciência e o fim da corrida especial, em plena Guerra Fria.


Esqueci de alguém? Claro! Ninguém também perdia os Trapalhões. E todos assistíamos às impagáveis peripêcias de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Só mais tarde percebemos que as verdadeiras estrelas, ao desaparecerem, deixavam outras sem luz própria...


Durante a semana, quando a noite chegava, mais uma vez, todos estavam diante da TV. E dá-lhe a melhor safra de novelas de todos os tempos: às 19h, acompavam-se os sucessos de Sílvio de Abreu e Cassiano Gabus Mendes. Quem não lembra da cena em que Charlô e Otávio se emporcalhavam na mesa de café-da-manhã em Guerra dos Sexos? Ou as alfinetadas de Jacque L'eclair e Victor Valentin na 1ª versão de Ti Ti Ti? Quem não tentou sacudir o relógio igualzinho o Sinhozinho Malta, dizendo "tô certo, ou tô errado?". E quantos de nós nos dividimos entre a honestidade de Raquel Acciolli e as adoráveis sacanagens de Maria de Fátima, em Vale Tudo?


Ah, os anos 80... quem era criança mal podia esperar as férias. Pé na tábua! Todos viajam para a casa da vovó, no interior, onde podiam correr com os pés descalços, banhar no rio, fazer brinquedo de papel, brincar de pega-pega ou de pique-esconde. E quando dava briga? Chororô geral, mas tudo se resolvi ali. Ninguém corria pra contar pro pai. E quando dava beijo? Era pêra, uva, maçã... mas tinha também quem escolhesse a salada-mista. Sorte dos garotos saidinhos quando aparecia uma menina espevitada...

E os desenhos? Quem nunca assistiu ao He-Man e à She-Ra? Aos Thundercats? Ao Capitão Caverna? Ao Manda-Chuva? À Família Buscapé?

E os jogos? Quem nunca bateu cabeça com o Genius? Quem não lembra do Odissey, concorrente do Atari?

E as lendas urbanas? Todo mundo tinha medo de ir no banheiro do colégio, temendo ser atacado pela loira do banheiro. Comer o pirulito do Zorro? Nunca! Quando os pais davam às costas, todo mundo ia rodar ao contrário o disco da Xuxa ou do Menudo, pra saber se tinha mesmo ali uma mensagem satânica. E quem tinha o boneco do Fofão mantinha-o bem longe da cama, à noite...

É. Acreditavam no Brasil. E todo jovem que era jovem era também engajado. Todo mundo cantou junto com Cazuza no Rock in Rio, quando esse enunciava "que o dia nasça feliz pra todo mundo amanhã". No amanhã que Cazuza previa, o Colégio Eleitoral elegeria Tancredo Neves, e a esperança da redemocratização tornava-se mais sólida. Todos queriam ser os descamisados do Collor, ou cantar o "Lula Lá". Dois anos depois, os mesmos que entoaram os jingles eleitorais entoavam o Hino Nacional, vestidos de preto e pintados de verde e amarelo, gritando "Fora Collor!".

Quem viveu os 80 jamais esquecerá os melhores anos de sua vida. Quem não viveu tem saudade. Saudade e inveja. Inveja daqueles que eram felizes e não sabiam. E têm de amargar uma época irritante de tão politicamente correta...

7 comentários:

  1. Olá, Fábio! Sabe, eu vive os anos 80, porém não participei muito de alguns desses "fatos"; seja por ter casado cedo ou por timidez. Você é um jovem maravilhoso... e será feliz em qualquer época. O meu carinho.

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  2. Também cheguei no mundo bem no finzinho, em 88. Queria ter aproveitado... Mas os anos 90 também foram ótimos e esses eu aproveitei legal! xD
    =*

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  3. Eu meique tenho uma ligação quase espiritual com os anos 80. É uma coisa assim ''não te conheço, mas já te amo!", sabe? Eu cheguei ainda mais atrasado que você. Em 1992, iniciozinho dos 90. Então, as minhas referências oitentitas foram garimpadas. Isso porque eu sou muuuito curioso.

    Gostei do post. Eddy

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  4. Nasci em 77, portanto posso dizer que vivenciei e formei meu caráter e minha cultura nesses anos deliciosamente bizarros. Doces lembranças. Ótimo texto.

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  5. AAAAAAAAAAAH Anos 80, me arrepiei!Relembrando,hehehe!!
    Afinal eu nasci bem no meio...
    E viva 1985,rs.
    E viva todas as deliciosas breguices dos anos 80!!!!!

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  6. Não sei porque, mas tenho essa mesma paixão pelo anos 80. Uma época que também não vivi, já que cheguei no início da outra(1991). Muito bom o texto, enriqueceu um pouco mais minha imaginação sobre o assunto, e olha que já tava bem fértil! Valeuu!.:

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  7. rapaz muito bons esses textos, me ajudaram a enrolar um dia todo de estágio... obrigado e parabéns

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