sexta-feira, 8 de abril de 2011

Eu, um contrasenso acadêmico


Cada dia que passa me faz olhar ainda mais pra mim mesmo. E isso é mais estranho do que parece. Talvez seja a idade chegando, e essa adolescência tardia e mal-realizada se transformando numa vida adulta ainda tão imatura. Mas eu já superei essa fase de incertezas quanto ao meu próprio perfil psicológico-comportamental: me assumi como um prenúncio do anti-social, apesar da necessidade de estar próximo de gente; como um "homem de gelo", apesar da necessidade de abraços constantes; como um racional, apesar desse romantismo latente. Enfim, me defini como um contrasenso.


Essas reflexões têm ganho projeção maior no ambiente acadêmico, onde tenho vivido um momento profundamente particular. Estar no Mestrado é um sonho que eu alcancei. Me refazer nele a cada dia é um desafio que me foi colocado. A cada dia, seja de aula, seja da convivência com os colegas - nunca imaginei que seria tão significativa - me vejo uma pessoa nova. Não na minha essência: continuo o mesmo do parágrafo anterior, só que diferente. Deu pra entender? Não? Tá, deixa pra lá. Prossigamos.


Ontem foi um dia desses, de desconstrução do Fábio de tantos anos, e de reconstrução de um outro, que nem ele mesmo conhecia. Ontem eu levei um tapa na cara. Um tapa de luva, tão leve, mas tão leve, que continua doendo até agora. Um tapa que me fez ir dormir sentindo-o. Sabe por quê? Por que me vi ante os meus preconceitos, e senti vergonha de mim mesmo.


Eu, que sempre estufei o peito para me dizer um "filho da História Cultural". E não deixei de ser. Mas, ao falar isso, empostava a voz, inseria nele uma empáfia voluntária, um quê superior. Sabe o "eu sou, vocês não são"? Pois é. Eu, que ironizei com o mundo, com o que lia, com o que via ou que ouvia em contrário. Eu, que me propunha alguém de mente aberta, um catalisador de ideias, me mostrava o mais inflexível dos metódicos. Mea culpa.


Ante o Certeau, o Burke, a Pesavento, o Nora, eu esquecia de tanta gente... Do Hobsbawn, que li com tanta avidez em suas reflexões sobre a Revolução Francesa; do Peregalli, e suas construções sobre o modo de produção tributário; e, por que não, do Ranke, que me ensinou o quanto a organização é necessária no fazer historiográfico. Perdão.


Perdoem esse cara, que se achava tão pós-moderno, e se mostrava tão positivista. Perdoem esse poço de contradições. Perdoem quem criticou o reducionismo e determinou o mundo. Perdoem quem se negou a ler aquele que disse que a história acabou, por puro preconceito. E também àquele que renegou o resto da Escola de Frankfurt por ter medo de trazer a contradição pro seu trabalho. Eu errei. E seu que talvez não mereça o perdão. Mas eu juro que vou me esforçar.

Um comentário:

  1. Muito bom. Uma professora me ensinou que não existe história melhor ou pior,na verdade existem histórias diferentes. Essa afirmação me fez olhar para os estudiosos da história com um outro olhar. Preconceituoso, sim ou talvez, pelo tempo que nos cruza, mas acima de tudo ciente dos lugares que eles estavam quando produziram a tal Historia.

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