segunda-feira, 14 de maio de 2012
Das coisas que eu (não) entendo
Parece que o tempo vai passando, e a gente vai ficando cada dia mais burro. Nossas ideias começam a caducar. Outro dia mesmo, eu me via pensando em certas coisas que permeiam nosso tempo, e que, amanhã, serão ultrapassadas. Me imaginei como aqueles velhos ranzinzas e saudosistas, cheio de reminiscências, dizendo que bom/correto/gostoso/moral/benfeito era no meu tempo. Essa sensação deve ter qualquer coisa a ver com as entradas, que começam a aparecer com mais promiscuidade, e com os cabelos brancos, que estão (ainda timidamente, mas estão) começando a se espalhar pelo meu couro cabeludo. E o pior é que a velhice está vindo antes de algumas coisas que a juventude proporciona...
Não quero aqui me lamentar por nada, porque não há motivos. Mas quero refletir sobre o tempo. Esse tempo do qual faço parte, ao qual sou sujeito, e aos afetos. Tem momentos em que certas coisas me afetam mais fortemente, e não tem grandes explicações. São momentos em que a vida me parece um banco de praça, num monte de onde se enxerga o pôr-do-sol. É nesses dias que me sinto o personagem da música do Capital, que vê nos reflexos do outro mais tranquilidade, menos nóias do que nos seus: "Não sei onde, quando ou porquê um dia eu percebi, a vida é mais doce pra você, tem um gosto que eu nunca conheci...". Pois é, "o tempo corre e eu preciso te alcançar...".
Enquanto isso, eu olho pra trás, e vejo que o tempo está passando numa velocidade impressionante. As coisas vêm se processando num ritmo de foguete, e eu não sei se eu mesmo estou conseguindo me acompanhar. É complicado. Se, num momento, você se enxerga numa praça provinciana, no outro, você está no meio do trânsito de uma capital caótica, e, em seguida, num quadro de Salvador Dalí, ou num filme de Jean-Luc Godard. Não sei ao certo. Mas tudo isso metaforicamente, claro.
Enfim, pra não perder o fio da meada: o tempo... Ele parece mais bonito na letra de Caetano, sendo "um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho", a quem posso fazer um pedido. Ele é inventivo, parece contínuo, e aparece ainda mais vivo no som do meu estribilho. O tempo, um dos deuses mais lindos. O deus do caos, talvez. O deus da estabilidade, provavelmente. Essa faceta divina de nossas próprias vidas, que nos atravessa, indelével, que nos afeta de forma tão direta e objetiva.
Talvez minhas ideias estejam, mesmo, começando a caducar. É nesses momentos que, de repente, parece que há um fosso entre você e os outros. Desse fosso, é dele que eu tenho medo. Me causa pânico a distância, a possibilidade de eu estar me tornando um dinossauro caduco, repulsivo, o lado negativo de um ímã. Me causa pânico, com 22 anos, prestes a completar 23, eu me ver como um velho chato, ranzinza e saudosista, cheio de ideias caducas e um moralismo barato. Ouvindo meu bop, lendo textos marginais, vendo flmes em super-8... ou, talvez, ouvindo música pop, lendo HQs e vendo um filme de aventura no Telecine, tanto faz. O tempo me atravessa.
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