domingo, 30 de setembro de 2012

Quem são os intelectuais do nosso tempo?

Porque intelectual sem esses #oclões não é intelectual. Rá!

Para muitos, não existem mais intelectuais. Vivemos em uma “sociedade da informação”, onde o conhecimento se tornou desimportante frente à velocidade com a qual manchetes, postagens, imagens, vídeos, registros sonoros nos afetam. Para muitos, a ausência de intelectualidade, frente à “banalidade” que tomou conta do mundo em que as informações imperam só é comparável à ausência da afetividade, num mundo em que abraços e beijos foram substituídos pela frieza de trocas de mensagens instantâneas.
 
 
Concepções como essa – que partem do conceito formulado, ainda na década de 1930, por Fritz Machlup – caíram no gosto de uma série de pensadores que, preocupados com as transformações que sofria o mundo nos tempos mais recentes, viam com pessimismo a transição de uma sociedade em que os livros seriam substituídos por computadores, e as análises por rápidos flashes de notícias. A pós-modernidade – ou modernidade líquida, ou capitalismo tardio, ou como mais se quiser chamar – tornou-se alvo de críticas, dada sua tendência à relativização das coisas.
 
 
Visões como essa vêm me incomodando, especialmente após os debates que travo com meu pai, partidário dessa concepção. E, todas as vezes em que ela vêm à tona, sob a forma de expressões como “não existem mais intelectuais”, ou “as pessoas estão mais preocupadas em manchetes de seis palavras”, fico consumido por um extremo incômodo, que aparece sob a forma de perguntas como “afinal de contas, o que é um intelectual?”.
 
 
Posso – e admito isso sem qualquer receio – estar partindo de um lugar de fala bastante particular: o de alguém que, envolvido pelas transformações, e mesmo pelo deslumbramento, causado por esse mundo e seus simulacros, de forma a não estar enxergando a “realidade”. Mas, no momento em que essa possibilidade surge em minha cabeça, outra pergunta me aparece: afinal, o que é a realidade?
 
 
É, caros amigos. Vivemos num mundo líquido, e isso incomoda. Vivemos num mundo em que a leitura de Tolstoi convive com o rebolado de Chayenne, e isso também incomoda. Vivemos num mundo em que as câmaras do Big Brother acotovelam-se com os poemas de Olavo Bilac; ou num mundo em que o canto de Elis Regina disputa espaço com um programa onde está se tentando encontrar “a voz”. E isso incomoda muito.
 
 
O objetivo desse texto, no entanto, é dizer que esse grande incômodo – que percebo entre muitos à minha volta – não me atinge. E isso me faz questionar mais, e mais. Seria eu alguém alienado? Alguém sob tal forma consumido pelas mídias que não me vejo fora delas?
Intelectual, eu? Sian!
 
A pergunta que motiva esse texto surgiu da discussão mais recente que travei com meu pai a esse respeito. Nela, ele relembrava um antigo conhecido que, comerciante remediado, podia se dar ao luxo de deitar-se em sua rede, com um pijama bem cortado, e, debaixo dela, ter diversos livros, aos quais ia degustando. Sim, é louvável. Mas não é menos louvável do que jovens de 17 ou 18 anos que discutem o cinema de Godard, em pleno 2012. E ainda mais: não é menos louvável do que figuras que compartilham o tempo em que comentam em seu blog sobre os discos de Tom Zé com outros em que se jogam numa festa de forró.
 
 
Respeite meus cabelos brancos de intelectual!
Cabelos? Onde?

 
Talvez, pros olhares menos atentos, os intelectuais estejam irreconhecíveis. Eles não são mais – ou pelo menos não necessariamente – as figuras austeras, sisudas, que jamais gastariam seu tempo falando de amenidades quando se tem um Machado pra ler. Também não precisam mais ser o tipo “porra louca”, que acha que o bom intelectual é aquele que transa droga e joga tudo pro alto. O “pecado” dos intelectuais da nova era é que eles se disfarçam de gente comum. De gente que fala abobrinha, assiste futebol, posta bobagem nas redes sociais, assiste a shows de stand up ao mesmo tempo em que curte imagens meme. O intelectual, essa figura aparente inexistente, está desaparecido apenas para os olhos fechados. Para os olhos pouco abertos às metamorfoses. Esses olhos, que buscando nas ruas a figura de Rui Barbosa, sem dúvida, não irão encontrá-lo. São olhos míopes como esse que não vêm os blogueiros que criam novas formas de escrever. Que associam a literatura russa ao eletroforró, ou a novela das nove à discussão acadêmica.
 
 
A vocês, míopes, só dedico meu lamento. #ficaadica.

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