terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O "Natal das Crianças" na Paróquia (ou Seria Cômico se Não Fosse Trágico)

Pode parecer um tanto elitista o que vou escrever aqui, mas não tem nada mais engraçado do que assistir auditivamente um evento para crianças. Sim, auditivamente. Porque se você estiver no lugar ficará angustiado com a bagunça generalizada e irá querer, você, fugir para as colinas. Não, melhor é ficar num lugar neutro, mas onde se possa ouvir com clareza, e ficar ali, imaginando a que ponto chega a civilização. Enfim.

Vivo num "triângulo religioso", entre duas igrejas evangélicas e o salão paroquial da Igreja Matriz católica da cidade. Sempre, ali no salão paroquial, nesses período de Páscoa, Dia das Crianças, Natal (datas onde crianças ganham presentes e/ou se empanturram) rola aquela festividade para as crianças carentes. Antes que me acusem de insensível em relação à realidade da infância brasileira, a miséria, etc, me apresso em dizer que o fato de serem crianças carentes ali é um mero detalhe. Crianças, de uma maneira geral, agem da mesma forma, seja saída da favela, seja dos Jardins, em São Paulo. Exceções são raras.

De longe (para ser mais específico, da sacada da minha casa), deitado numa rede, é possível escutar bem o que se passa através das reações da animadora do evento (em geral uma moça desapegada dos bens materiais, recheada de paciência e benevolência cristã, e que dali sairá para uma sessão de análise). Acompanhe o passo a passo. Em geral, acontece exatamente nesta sequência:

1º momento - A recepção acolhedora
"Benvindos, queridos! Sintam-se todos à vontade! Essa festa foi feita para vocês! Divirtam-se!"

2º momento - As brincadeiras
"Gente, vamos se organizar (se organizar?! Correção gramatical pra quê, né?) pras brincadeiras. (t) Hei, queridinho, pode levantar daí, sim? Gente, todo mundo aqui bem juntinho, e dêem aquele grito de oba! (Alguns gritam oba, outros gritam coisas impróprias pra esse blog) Cuidado com essa boca, queridinho! Deus castiga... (risinho falso da apresentadora)"

3º momento - O lanche está servido!
"Gente, vamos lá que o lanche está servido! Muita coisa gostosa, feito com todo carinho!"

4º momento - A chegada até o lanche
"Crianças, não precisam avançar. Tem pra todo mundo! (outro risinho falso) Vamos fazer uma filinha?"

5º momento - O fracasso da fila
"Gente vamos lá... gente vamos/ Eu já disse que não precisa avançar! (cara feia) Gente, pelo amor de Deus, educação, EDUCAÇÃO!!!"

6º momento - Os hunos chegaram?
"Hei, sai de cima dessa mesa! Alguém tira aquele moleque de cima do bolo! Hei, menina, cuidado pra não se afogar no suco! Cuidado, não come todos os pastéis, seu porco!"

7º momento - O fundo do poço
"Gente, ele tá vomitando! AQUELE MOLEQUE PORCALHÃO VOMITOU EM CIMA DO BOLO!"

8º momento - Eu me rendo!
"Socorro! Fujam pras colinas! O prédio vai cair! Estão comendo as paredes! Mei dei!"

Enfim... deu pra entender porque eu prefiro escutar de longe?

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