sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Textículo mais ou menos pós-moderno

Pois é, Zeca Baleiro. Quiseram desmaterializar a matéria, mas ninguém se propôs a ligar a máquina de fazer cair neve em Teresina. Vida essa, né? E o calor tá fazendo urubu, que voava com uma asa e se abanava com a outra, ficar no chão, se abanando com as duas. O meu ar-condicionado é um rapaz muito responsável, que trabalha direitinho, embora eu não pague a ele direitos previstos na CLT. No dia que ele reclamar, mando procurar Karl Marx, num bar qualquer perto de uma universidade. Será que ele ainda anda por lá? Acho que deixou, depois de tanto ser achincalhado.

Rousseau também frequentava esses ambientes. Parou quando viu que o povo não fazia extensão em francês pra ler seus originais, e sim pra passar na seleção dos programas de pós-graduação stricto sensu. Deprimiu, claro. Foi chorar no colo de Eva Braun, que deixou Hitler cochilando, de costela com um judeu. Porque o amor é, essencialmente, adúltero, e até mesmo Santo Agostinho se renderia às paixões da Internet. Facebook, Facebook meu, existe timidez que sobreviva a uma foto, um teclado e mensagens instantâneas? Cara a cara, não, porque, depois que Deleuze falou dos corpos sem órgãos, tudo isso virou patrimônio material descartável.

Mas enfim, o mundo continua igual. Estudante de Direito ainda se acha melhor que o povo da licenciatura, e diz que doutor de verdade é ele. Como se o cocô que fizesse no banheiro da universidade fosse mais cheiroso... Mas um dia ele abre um escritório, passa na OAB depois de 30 anos, quando o computador, cansado, vai pôr seu nome lá a revelia, e vive feliz, ao lado de sua esposa (uma figura híbrida, uma entidade multimaterializada, que se divide entre um cachorro chiuaua, um micro-ondas e a televisão HD). E não esqueçam do óculos 3D: todo homem gosta de ver sua esposa bem paramentada.

O interior é que não é mais o que era. Não há um cavalo sequer sem tablet, e pergunte pra ele quem é Lady Gaga, pra você ver o que ele vai lhe dizer. Tem colégio público por aí onde “Alejandro”, “Coração Materno”, “Pedaginha do Inglês” e “Love Me Tender” substituem o Hino Nacional, cada um cantado um dia da semana. Sexta-feira tem festinha na escola, e as crianças, vestidas de roxo, com balões encardidos, se requebram ao som maneiríssimo de Joaquim Osório Duque Estrada.

Caramba, são horas. Meu relógio acaba de dar um tapa na minha cabeça, dizendo que estou com fome. Vou jantar algo líquido, comprado num supermercado na esquina do motel onde, nesse exato momento, transam uma vendedora ambulante e um guarda de trânsito. Ele a conheceu no prédio mais alto da cidade e, dono de uma mania particular, cochichou-lhe, pertinho da janela: “Defenestras?”. Ela entendeu errado, e tascou-lhe um beijo na boca, por pouco não arrancando sua roupa ali. Ele, claro, não se fez de rogado, embora a decepção tenha batido, num primeiro momento. Acontece.

Bom, vou-me já que já está pingando. Se a Coca-Cola esquentar, a culpa vai ser do fogão. Torquato, um abraço. A gente se fala.

Um comentário:

  1. ôoo viagem!!! Gostei da parte do acadêmico de direito,rs' Muito bacana! sucesso! (Rafael Monteiro)

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