quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Eu, outsider (ou como Susan Hilton tem ajudado a entender minha subjetividade)



Não, não uso longos cabelos passado gel. Também não fumo, não bebo, e não moro na periferia de uma grande cidade. Não sou greaser, tampouco soc (ou social, na linguagem dos jovens pobres dos Estados Unidos na década de 60). Mas sou outsider, e esse é um sentimento antigo, e difícil de resolver.

Outsiders são os jovens que, no romance de Susan E. Hilton, lutam por demarcar espaços na sociedade norte-americana dos anos 1960. As periferias são a casa dos greasers, como os garotos ricos chamam os jovens pobres, de longos cabelos, e hábitos para eles execráveis. Para os greasers, por sua vez, aqueles que deles se diferenciam são chamados de soc, ou socials - jovens ricos, com boa condição financeira e uma vida confortável. O livro de Hilton, "Vidas sem Rumo - The Outsiders", é contado na perspectiva do adolescente greaser Ponyboy. Com seus 14 anos, Pony já viu e viveu muito mais do que muitos garotos de sua idade. Vive, desde a morte dos pais, com os irmãos Darry e Sodapop, e tem numa turma, constituída pelos amigos Metido, Johnnycake, Steve e Dally. Todos eles com vidas sem rumo. Todos eles habitando espaços onde são malvistos e marginalizados. Pony e seus amigos preservam longos cabelos, amontoados de gel, como medalhões e orgulho de sua condição, e também como forma de diferenciar-se dos socs, seus inimigos. Ao longo da narrativa, no entanto, percebemos que greasers e socs são condições de existir juvenis bem mais complexas que a visão inicial de Ponyboy nos aponta. Todos crescem, todos amadurecem. Todos têm sua vida repletas de problemas.

Mas não é (só) disso que eu quero falar.

A leitura de Susan Hilton, para efeito de constituição de um plano de curso, me despertou uma sensação ao mesmo tempo estranha e melancólica sobre mim mesmo. Apesar de não ser greaser, tampouco soc, apesar de não viver envolvido em lutas de gangues ou qualquer coisa do gênero, me percebo como alguém carregado das subjetividades presentes nestes, principalmente em Ponyboy. Diferente dele, não perdi meus pais, e diferente dele, não tenho irmãos. Tal qual o personagem, porém, guardo poucos e bons amigos de verdade - é difícil, no trato, diferencer os colegas dos grandes amigos, mas essas coisas não se entendem, apenas se sentem e se subentendem. Tal qual Ponyboy, também, tenho acessos constantes de sentimento repentino de solidão.

Por vezes, me sinto um outsider, mesmo em ambientes não-hostis. Isso muda e se relativiza, de acordo com os ambientes e as pessoas, mas acontece. É comum achar que não sou o filho ideal, o amigo ideal, o aluno ou professor ideal, o namorado ideal. É normal que eu precise de doses extras de apoio, embora, contraditoriamente, viva expressando otimismo para com meus amigos (apenas os grandes amigos). É normal ser otimista e positivo para os outros, e um poço de introversões para consigo mesmo? É normal achar que o que se faz para com os outros não é sucifiente? Ou que eu mesmo não sou suficiente, na minha relação com as pessoas?

Tal qual Ponyboy, em sua relação com o irmão Darry, costumo ter estranhas sensações de que aqueles em volta de mim não gostam de mim de verdade. Isso para depois ter provas (às vezes pequenas e involuntárias) do contrário. Sentimentos como o amor, a amizade e tantos outros ganham expressões diferentes em diferentes pessoas, e acho que essa lição eu ainda não aprendi totalmente.

No trato com as mulheres, tal qual Ponyboy, frente à soc Cherry Valance, costumo achar que não sou o suficiente. "O que aquela soc, e ainda por cima bonita, poderia querer comigo?", pensa Pony, e penso eu também. Afastar-se por não se achar maduro o suficiente, preparado o suficiente, seria uma saída, Ponyboy? O que você fez? Você não teve chance: Cherry tinha um namorado soc e, além do mais, lutava para não amar Dally, um marginal que ela fingia odiar. O mundo é complicado, e as mulheres o são à décima potência.

O livro de Susan E. Hilton me fez e está me fazendo pensar em mim mesmo. Quer saber? Acho que isso deveria acontecer com todos. Todos deveriam ser outsiders na vida, pelo menos um dia, ou a vida toda. Mas pra sempre é muito tempo, não é? Pois bem. Sejamos outsiders para nós mesmos. Sejamos greasers, e vejamos outros tal qual nós. Vejamos os Sodapops e Jhonnycakes, em seu apoio e amizade expressas e incondicionais; mas vejamos também nas indiossincrasias dos Darries, formas diferentes (não menores) de estar ao lado. Tenhamos a quem apoiar, ser leal, de quem esperar e receber apoio. Olhemos para as Cherries, amemos as Cherries, vivamos o platonismo frente às socs que, aparentemente, são muita areia pro nosso caminhãozinho. Tudo isso de maneira rápida, demorada, ou tudo isso ao contrário.

E até a próxima.

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