quarta-feira, 30 de março de 2011

A única Maria do mundo


Ontem se deu a final do BBB mais miado de toda a história. O programa que, como sempre, iniciou-se sob expectativas e especulações em torno de seu novo elenco, decepcionou na escalação. Não faltaram tentativas da direção de alavancar a coisa, mas todas foram em vão: o BBB11 terminou com audiência medíocre, assim como seus participantes. Em meio ao marasmo, quais são as análises possíveis? Porque a edição não vingou? Quais foram os erros de Boninho e cia? Tudo isso, todas as possíveis considerações acerca do programa, servem, também, para refletir sobre sua final, e sobre a construção de sua campeã.


Já não é de hoje que uma das principais estratégias de Boninho na formação do time que entra na casa mais vigiada do Brasil tem seguido um critério-mor: escalar os mais bonitos e polêmicos. Essa tem sido uma máxima do programa, em especial da 9ª edição para cá. Queria-se um Big Brother mais jogado, mais estratégico, menos emotivo que os outros. Conseguiu-se? Sim, em termos. Vencedores como Max Porto e Marcelo Dourado destacaram-se como grandes jogadores e estrategistas.


Particularmente, como grande fã que sou do reality, comemorei quando a nova política da direção passou a ser essa. Já estava cansado de um Big Brother vencido por desmiolados, bam-bam-bans e superpobrinhos. Que vença o melhor jogador, pensei, assim como nas edições americana, alemã, etc. Não torci por Max, torci por Dourado e seu time... mas, entre erros e acertos de palpites, reconhecia méritos nesses BBBs em que se valorizava a inteligência em vez do carisma.


E, como que para me dar um sonoro tabefe, vem a 11ª edição, e me faz discordar de mim mesmo. A edição, mais do que nunca, privilegiava a escalação de participantes, como diria Maurício Stycer, "com os dois pés na baixaria": mais da metade ou tinha pousado sem roupa ou com pouquíssima roupa - isso sem contar os fetiches com máscaras de Darth Vader e, também, vidas pregressas, ligadas a prostituição. E, nos primeiros dias do programa, a grande estrela foi Ariadna, a "fábula do século XXI", transexual, que levantou grande discussão sobre o assunto em todas as mídias. A história de Ariadna parecia ser suficiente para garantir o sucesso do programa - não fosse o fato de que o público a eliminaria no primeiro paredão. Não conformado, o Big Boss criou uma estratégia para tentar reinfiltrá-la na casa, criando a nova Casa de Vidro. Mas não foi suficiente, e Ariadna foi preterida a Maurício. Fazer o quê? Vida, essa...


Ariadna saiu, e a casa caiu no mais completo marasmo. A história que norteava a edição, e que fora a aposta de todas as fichas dos diretores, babou. Ficaríamos com a metralhadora verborrágica de Diogo, a apatia de Rodrigão, os surtos sem-noção de Michelly ("Eu tô de shorts!"), além de Cristiano se esfregando no casting feminino da casa, todo trabalhado no doce de leite. Não contente, e querendo consertar o Boeing em pleno voo, Boninho adapta o expediente americano do Entra-e-Sai, fazendo um paredão em que rodam dois e entram dois, ainda confinados: dessa maneira, entram no programa a miss Adriana e o médico Wesley, com a missão claríssima de botar fogo no jogo.


De fato, Adriana e Wesley movimentam a casa. Adriana engrena um romance contraditório com Rodrigão, fala verdades na cara de algumas pessoas, e ganha um eleitorado forte, ao mesmo tempo em que seu jeito juvenil, e sua mendicância quanto ao amor do rapaz, criam rejeição tão ou mais forte quanto. Já Wesley ajuda a protagonizar uma das principais histórias da casa, que seria levada, enfim, à grande final: passar a cortejar Maria, recém-separada de Maurício, um dos últimos eliminados do programa. Eis que, quando o romance estava em vias de acontecer, MauMau volta da Casa de Vidro, causando um triângulo amoroso totalmente inusitado, e passando a ser vítima da perseguição implacável de uma dividida Maria.


Maria se contradiz, age sem pensar, fala o quer e ouve (muito) o que não quer. Bebe, faz bobagens, se arrepende, chora. Bebe novamente, corre atrás de MauMau, é dispensada por ele. No dia seguinte, tome crises de consciência e ressaca moral. Ressaca não maior que as das bebedeiras astronômicas do tricotante Daniel, que engrena o mais peculiar caso amoroso do programa: com uma palmerinha (what?).


A grande final privilegiou os participantes que, de alguma forma, causaram no programa. Foi resultado da escalação equivocada de Boninho que, ao privilegiar a polêmica, esqueceu dos protagonistas. Afinal, o que marcou o sucesso de edições do BBB como a 3ª, a 5ª e a 7ª? A criação de personagens carismáticos, que despertaram o amor do público. E nisso, chamo a mea culpa: eu, um dos maiores incentivadores desse novo BBB, clamo por um retorno a esse ponto ótimo perdido. O BBB que nos fez amar Manuela e Tyrso, Juliana Alves, Grazzi Massafera, Mariana Felício, Siri e Diego Alemão, Rafinha e Gyselle Soares. Antes o carisma, a construção do vencedor muito, mas muito antes do fim, do que a apatia que se observou esse ano.


Daniel, Maria e Wesley fizeram uma final que coroou o programa em sua mediocridade. O discurso de Bial, ao anunciar Maria como a grande campeã, ressaltou seu passado, e o fato de ter mexido com o imaginário não só masculino, mas também, e principalmente, com a opinião das mulheres sobre si mesmas. Particularmente, embora não torcesse de fato por nenhum dos finalistas, votei pela vitória de Maria por dois detalhes básicos. Primeiro porque, há muito, queria ver Bial anunciar uma VENCEDORA do programa, uma vez que as únicas mulheres que chegaram a esse posto foram Cida e Mara, e, né? Em segundo lugar porque, se formos garimpar os protagonismos, Maria foi a grande estrela do programa. Levou-o nas costas, centralizou sobre si a história. No BBB mais over da história, Maria foi, sim, a melhor.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Perfumes, músicas e lugares de memória


"A recordação é o perfume da alma. É a parte mais delicada e mais suave do coração, que se desprende para abraçar outro coração e segui-lo por toda parte" (George Sand)

Perfume... fragância de lembranças. Extrato sensorial, sinestésico, de uma parcela de nossa vida, que volta à tona quando o sentimos novamente. Ah, e que lembranças, que lembranças nos trazem, que sensações nos despertam, novamente e, às vezes, mais fortes que o momento original.

Todas essas divagações são resultados da aula de ontem de História e Memória. Quando, ao discutirmos Jacy Seixas, em seus "Percursos de memória em terras de história", quando a relacionamos com teóricos das mais diversas áreas, como Halbwachs, Proust e Bergson, Paul Ricoeur, e, principalmente, quando a discussão estrapola o texto acadêmico e se configura em um passeio por nossos sentidos, percebemos que nossas memórias mantém-se presentes, vivas, em lugares específicos, sejam eles físicos ou não.

Perfumes... aqueles que nos trazem de volta lugares, momentos e, principalmente, pessoas. Aquele perfume inesquecível que ela usava, e que, usado por qualquer outra mulher, sempre será dela. Dela, e de mais ninguém. Ali, na minha memória, aquele odor será único. Unicamente dela. Aquele que, para sempre, me lembrará momentos na Praça Irmãos Dantas, naquele banco bem diante da Igreja de Nossa Senhora do Carmo (ou em qualquer outro), que me fará recordar, para sempre, aquele dia, em frente ao portão de sua casa, olhando as estrelas no céu. Que me obriga a rever, mentalmente, aqueles olhos de ressaca, olhos de Capitu, oblíqua, dissimulada, sempre escondendo muito mais do que mostrava...

Porque eu sei que é amor
Eu não peço nada em troca
Porque eu sei que é amor
Eu não peço nenhuma prova
Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui, agora
Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir embora.

Por que raios os Titãs me perseguem, em minhas lembranças?! Pô, sempre eles! E eles, sempre, e mais uma vez, me levam a lembrar. A lembrar dela. Já no fim do nosso romance, quando passeávamos pela mesma praça, quando sentávamos no mesmíssimo banco, quando conversávamos debaixo das mesmíssimas estrelas no céu. Enquanto a mãe dela ligava pro seu celular e a mandava entrar logo em casa. Naqueles dias, um romance que nasceu particular, nervoso, principalmente da minha parte, terminou, também, de maneira particular. Com um abraço, um carinho e, se eu não tivesse resistido em meus propósitos, um beijo, que o reiniciaria.

A memória que, nesse caso, transformou-se em relicário. Guardada numa caixinha, como passado, por vezes presentificado, traz saudade. O mais engraçado de tudo é que a saudade, nesse caso, termina sendo melhor que o momento - esse recheado de nervosismo, inexperiência, uma certa angústia.

Como saber de que forma sentimos, de que forma encaramos e como convivemos com nosso passado e nossas percepções?

Provavelmente, nunca saberemos.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Uma pausa para falar de nós

Pois bem. Chega a hora de refletir. O SuperCult já é um blog com mais de um ano, então a gente pensa que é chegado o momento de discutir a relação. Não, nosso casamento não está em crise, muito pelo contrário. Nos damos bem, nos compreendemos (ou melhor, ele me compreende, porque eu mesmo nunca o perguntei o que ele achava de receber essa descarga de informações minhas em postagens períodicas), ele gosta dos meus amigos, e eu lhe apresentei amigos novos (um abraço ao Melão, ao Ta Fun, ao Roteirizando, ao EnTHulho e a outros amigos do meu blog). Talvez a DR não seja exatamente a máxima desse momento, mas sim as boas lembranças do passado, e as boas esperanças do futuro.

Como disse na primeiríssima postagem aqui, o SuperCult seria uma espaço de divagações do autor. Um blog de arte em geral, como bem definiu o Prof. Edwar, que não tem medo de falar de qualquer assunto que ocorrer a quem o dirige, de ceder à inspiração a mais bizarra, de parar para pensar, apenas. Um blog que se propõe, e tem cumprido, a função de ir da cozinha ao divã do analista.

Naquele dia, em janeiro de 2010, não imaginava que ele ganharia a repercussão que ganhou. Muito menos que chegaria a pouco mais de um ano beirando os 8000 acessos (eu, que achava que seria o único a frequentar o blog!), e nada poderia me deixar mais satisfeito do que ver que aqui, um lugar para falar de coisas que interessam a um público seleto, é tão bem frequentado, seja no sentido quantitativo quanto, principalmente, no qualitativo.

Ao longo desse ano, falamos de cinema, em várias formas: listamos os grandes vilões de Hollywood, selecionamos os 10 mais do autor, diferenciamos a cinematografia erótica e pornográfica, discutimos cinema marginal e pornochancada. Fomos do trash aos clássicos [AlineDurelfeelings]. Além disso, divagamos sobre música e literatura: relembramos personagens do pop-rock nacional, degustamos as crônicas de Luis Fernando Veríssimo, relembramos as alegorias e o realismo fantástico em obras de Saramago e Érico Veríssimo (isso sem contar nosso "Prêmio Eguinha Pocotó", que dispensa comentários). Além de tudo isso, nos voltamos para aquele que uniu em torno de si a poesia, o cinema e a música, conseguindo transformá-los em uma coisa só: falamos de Torquato Neto, em sua "louca vida, vida breve", que nos legou tanto e nos negligenciou muito mais.

Fizemos, em especial, muita crítica de televisão. Tentamos fugir do paradigma do crítico, aquele que fala e não assiste. Sim, o SuperCult acompanha com prazer novelas, minisséries e reality-shows. Analisa a audiência, a repercussão, quer ter parte no processo. Buscou, ao longo desse ano, demonstrar despretenciosamente suas opiniões, e, principalmente, compartilhar da opinião de outros tantos e tão caros. Nisso, tivemos a honra de entrevistar um dos arautos da dramaturgia virtual, o jovem e talentoso Eduardo Secco, e o grão-mestre dos Queridões de plantão, Vitor Santos.

Hoje, o SuperCult atravessa uma nova fase de sua vida, o que coincide com um novo momento da vida de seu autor. Continua o mesmo, só que diferente, entenderam (Não? Bom... deixa pra lá). Aonde, afinal, está a diferença? E quem disse que eu sei? Só o tempo dirá. Aliás, acordar diferente é aquilo que nós - eu, vocês, o SuperCult - temos feito todos esses dias, em mais de um ano. Essa é a nossa função. Somos subjetivos, muitas vezes inseguros, distantes e ao mesmo tempo pressionados pelo mundo prático. Somos angustiados, angustiantes, quase esquizofrênicos. Somos alegres de tanta timidez. Somos aqueles que não páram pra refletir - refletem 24 horas por dia.

Falo nós, porque vocês (é, você mesmo) são meus cúmplices. Afinal, se não fossem vocês, eu nem sei se o blog ainda existiria, porque, apesar de ter sido essa a ideia original, eu não tenho vocação pra falar pruma parede. Se estou aqui, é porque sei que sou ouvido, lido, que compartilho meu sentimento com alguém. E espero que continuemos juntos, vivendo as agruras e delícias através de tantos bytes.

Aqui, um abraço a todos: ao Vitor e ao Duh, meus entrevistados, que me honraram com palavras tão marcantes; ao Eddy, Evana, TH, Paulinho, Monique, Ivy, Walter, Vanessa, Helder, Jorge, Ivan, queridões de carteirinha que, através desses contatos virtuais, me ajudaram a construir minha sensibilidade televisiva. Ao xará Fábio Costa, ao Nilson Xavier, à Renata Dias Gomes que, grandes entendedores de dramaturgia que são, me deixam beber dessa fonte de conhecimento. Ao Hênio e ao Daniel, grandes amigos do litoral, que fazem da cultura sua arma de guerra. À Simone, grande amiga da terrinha, que vem esbanjar sua sutileza nas "Entrelinhas" do SuperCult (rs). Ao meu pai que, apesar de frequentar pouco, foi e continua sendo o grande incentivador de todas as minhas empreitadas. Aos colegas e professores da gradução e do Mestrado, que vêem aqui constatar que minhas loucuras também se expressam na escrita.

A todos vocês, obrigado.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Nos tempos em que o cão era menino...




O Carnaval acabou! Começa meu esquindô, esquindô, proferindo graças ao (fim do) evento. Lindo, lindo, esse dia que amanhece com o único e exclusivo som do canto dos passarinhos. Ok, eu sei que isso terá um fim breve pra mim. Em alguns dia, cidade nova, cidade grande, e o burburinho dos carros tomará conta. Mas ainda dá pra aproveitar. Além do mais, minhas desculpas se fui antipáticos com posts recentes, principalmente no Facebook, sobre o assunto. Mas a "falta de sacanagem" desse pessoal que sai pulando de abadá (não, Evinha, pelo menos aqui tinha mesmo CARNAVAL 2011) suplanta a beleza desse evento de origem italiana, que se manifesta lindamente em cidades como Recife, Olinda, Rio e São Paulo (aliás, um abraço ao pessoal da Vai-Vai pelo título merecido).

Mas enfim. As bizarrices que a gente vê por aí nessa época me lembram as zil histórias contadas sobre a minha cidade. Histórias, como diz meu velho e sábio pai, "do tempo que o cão era menino". Ou seja, da época dele. Ou um pouco antes, mas ele fala com aquela propriedade, inventada ou não. Enfim: os fatos bizarros que se procedem no cotidiano real ou imaginário piracuruquense merecem destaques.

Uma das histórias que meu pai conta, em geral para deixar minha tia de 93 anos p*** da vida são de quando ela morava na Conceição, uma antiquíssima propriedade da minha família, onde ele costuma dizer que as coisas eram tão antigas, mas tão antigas, que a galera, nos idos de mil novecentes e nunca, jamais tinha visto um carro. E o primeiro que apareceu foi "morto" a pauladas da população que, imaginando ser aquilo um bicho qualquer (e solta fumaça, gente!) deveria ser eliminado. O duro, no fim, foi o motorista querendo sair, e tendo que ser tirado do veículo com a ajuda de um abridor de latas. Ou seja: TENÇO!

Anos depois, foi a vez de agirem as forças do além. No caso aqui, do "aquém". Por que, né? A pessoa não fez a passagem, embora todo mundo jurasse que sim. A mulher empacotou, fizeram a extrema-unção, trabalharam no formol e levaram pro velório. Chegando lá, o usual no evento: chororô, velas acedas, bolo e café passando, um ou outro contando umas piadinhas. Quando, de repente, a dona defunta levanta-se, olha pros lados e pede um copo d'água. Quer dizer... TODOS FOGE.

Vou pensar em novas pra comentar com vocês, no futuro. Enquanto isso, "nozes" fazemos o Merchan das crônicas do meu pai, que fala de outros.

http://www.piracuruca.com/colunatexto.asp?codigo_=429&codigo_1=O Cronista

Abraços!

quinta-feira, 3 de março de 2011

SuperCult entrevista o "Sr. Melão" Vitor Santos


A televisão é uma constelação cheia de estrelas. Uma delas dá a esse blog a honra de entrevistá-lo. Acadêmico, telemaníaco inveterado e dono de um dos mais famosos (se não o mais famoso) blog sobre o tema na Internet (Eu Prefiro Melão - http://www.euprefiromelao.blogspot.com/), Vitor Santos de Oliveira concedeu essa entrevista ao SuperCult sobre todos esses assuntos, e também sobre sua nova empreitada no mundo televisivo.

SC – Desde quando surgiu sua paixão por novelas?
Vitor - Desde sempre, acho. Minhas lembranças mais remotas são o medo que tinha da Regina Duarte gritando em Sétimo Sentido e da Tereza Rachel fazendo maldades em Louco Amor. Eu ouvia todo mundo comentando o quanto ela era má e achava que a atriz era má de verdade (risos). Ainda nessa época, uma novela me fascinou, “Guerra dos Sexos”. Tinha 6 anos e lembro que brincava com meus vizinhos. Cada um interpretava um personagem na novela e pra mim não tinha ninguém mais bonito no mundo do que a Maitê Proença. Mais tarde, comecei a escrever minhas próprias tramas e as encenava com meus amigos (dava até nomes artísticos pra eles). Já adolescente, escrevi cadernos e cadernos com “novelas” por volta de 150 capítulos, onde cada página do caderno era um capítulo. Mais tarde descobri que o que eu fazia era muito parecido com o que chamamos de escaleta, que é uma espécie de resumo dos capítulos, ainda sem os diálogos. Enfim, desde muito cedo sou um telespectador assíduo e sempre sonhei com o mundo televisivo, mas por morar em Petrópolis e ser de família de classe média baixa, nunca pensei que esse sonho chegaria algum dia.

SC – O interesse por escrever ficção na TV encontrou algum preconceito no meio acadêmico, do qual você também faz parte?
Vitor - O meio acadêmico é, de fato, ainda muito conservador em se tratando de escrever ficção, inclusive televisiva. Lembro que, quando ingressei na faculdade de Letras, pensava que meu lado “escritor” seria super valorizado, mas não é o que acontece. Nada de romances, contos e poemas de sua própria autoria. Tudo o que não for escrita acadêmica, não interessa a eles. Mas, dentro dessa linha acadêmica, há espaços em que se pode falar de ficção televisiva, como o Núcleo de Dramaturgia da USP e o Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Linguística Aplicada da UFRJ, do qual faço parte. Minha orientadora, Branca Falabella Fabrício, possui um projeto em que se estuda o discurso e as práticas sociais, inclusive o discurso midiático. Embarquei nessa e devo dizer que não sofri preconceito algum. Muito pelo contrário. Há muita curiosidade sobre esse universo. Portanto, é só uma questão de procurar e encontrar o lugar ideal.

SC – O universo ficcional de Vitor Santos tem alguma característica específica?
Vitor - Embora já escreva há muuuito tempo, profissionalmente falando ainda sou iniciante. Mas posso dizer que gosto muito de escrever comédias românticas, estórias onde as relações pessoais sejam o foco. A temática da amizade e da família me perseguem um pouco. Não sei bem se essas características irão perdurar no decorrer de minha carreira, mas tenho uma preferência por estórias em que os personagens movam a trama e não o contrário. Gosto de focar no lado humano do personagem e evito ao máximo, estereótipos e tramas maniqueístas. Vamos ver. Só o tempo irá responder ao certo.

SC – Além de roteirista e blogueiro, você é conhecido por ser fã inconteste de Betty Faria. A relação que você já estabeleceu com a atriz denotou alguma característica marcante desse “universo”?
Vitor - Minha paixão pela Betty vem de longe e essas coisas a gente não consegue explicar muito. Acho-a linda e talentosíssima, como muitas atrizes são, mas ela consegue me cativar de uma maneira única. Não sei se é porque ela lembra muito a minha mãe (risos) ou se as personagens que ela interpreta são, em sua maioria, mulheres fortes, belas, intensas e batalhadoras. O fato é que Betty, pra mim, representa o protótipo de feminilidade da mulher brasileira. Nunca pensei que um dia fosse conhecê-la. Nesse dia, quando fui vê-la no teatro em São Paulo encenando “Shirley Valentine”, fiquei até meio bobo, enquanto ela, simpática e exuberante, me apresentou pra todo mundo e demonstrou muita alegria em me conhecer, já que ela sabia que eu era o criador de sua comunidade no Orkut e também comentarista constante de seu blog. A partir daí, nos falamos de vez em quando, mas sempre com muito carinho. Considero a entrevista que ela concedeu ao Melão, uma de minhas maiores conquistas. Quando ela me encontrou em um evento, fez questão de entrar de braços dados comigo. Na época, estava cursando a Oficina de Teledramaturgia da Rede Globo e ela me deu a maior força. O que mais me encantou foi que, pra mim ela continuou um mito, mas também se revelou um ser humano espetacular. Nem preciso dizer que meu sonho é escrever pra ela um dia, né? (risos).

SC – E o Eu Prefiro Melão? Como, quando e por que o blog surgiu?
Vitor - Sou blogueiro de longa data. Tinha com o Carlos Carvalho, meu companheiro, um blog de conteúdo geral chamado Aqueles dois e logo depois criei um blog de cinema chamado Cinema, etc – O Vitor viu.... Mais tarde, percebi que não tinha um veículo para falar sobre meu assunto favorito e sentia necessidade de falar para um número maior de pessoas do que há nas listas de discussões e comunidades das quais fazemos parte. Daí a ideia do blog. O nome é uma homenagem ao Cassiano Gabus Mendes. Faço uma alusão à famosa fala de Dom Lázaro Venturini (Lima Duarte) em Meu bem meu mal, que após sofrer um derrame e ficar meses sem falar, ao ser perguntado pela enfermeira se preferia mamão ou melão dá essa resposta para surpresa dela e do público. Acho que muita gente que viu essa cena já imitou o Dom Lázaro com boca torta e tudo dizendo “eu prefiro melão”...(risos)! Só não esperava que o blog teria essa repercussão tão grande, inclusive obtendo o respeito e reconhecimento de profissionais que sempre admirei como Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Alcides Nogueira, meu querido Tide, muso absoluto do Melão.


SC – Em sua opinião, os blogs e comunidades virtuais sobre televisão em redes sociais (das quais fazemos parte) atuam hoje como uma “crítica de TV paralela”? Se sim, qual é a sua repercussão? Vitor - Sem dúvida. Antes da internet, a repercussão de uma novela (que é diferente de audiência) só podia ser medida pelo boca-a-boca e sempre dependíamos de meios institucionais para lermos a respeito. Infelizmente, são pouquíssimos os jornalistas que levam TV a sério (Artur da Távola era uma exceção). Por isso, acho importantíssimo o trabalho de pessoas que criam blogs e comunidades de discussão sobre teledramaturgia. Entre os blogs, há aqueles que se dedicam apenas a fazer “clipping” de notícias e há os que criam conteúdo próprio, como o meu, como o Zappiando, do Paulo Ricardo Diniz e o No mundo dos famosos, do Jeferson Balbino, por exemplo. Hoje em dia é possível medir a repercussão de uma novela em tempo real pelo Twitter. O que está acontecendo com a reprise de Vale Tudo é um verdadeiro fenômeno. As pessoas repercutem cada cena e há os fakes que falam e reagem como se fossem os personagens da novela. É a prova de que a internet não tira audiência da TV. Pelo contrário, pode até fortalecê-la, pois o espectador de hoje pode dar conta de várias mídias ao mesmo tempo. A teledramaturgia atual precisa, não só ficar de olho com o que é veiculado em blogs e redes sociais, como também produzir cada vez mais conteúdo transmídia para um público ávido por esse tipo de interação.

SC – Recentemente, você se tornou um dos mais novos contratados da Rede Globo de Televisão. Qual é a sensação de chegar a um lugar ao qual tantos outros almejam? Pode falar de algum projeto?
A sensação é a mais maravilhosa possível, afinal verdade seja dita: não há lugar melhor no Brasil para um roteirista trabalhar do que a Rede Globo, que abarca em sua grade, produtos para todo tipo de público. Pra mim, é a realização de um sonho, pois como já disse, cresci assistindo às novelas da Globo e querendo fazer parte desse universo. Mas não teve nada de “Cinderela” nesse sonho. Muito pelo contrário, ele foi construído passo a passo, com muita luta, muito trabalho e, principalmente, muita determinação. Desde que resolvi ir abandonando aos poucos o magistério para fazer o que realmente gosto, em 2007, investi em cursos e tive professores maravilhosos como Margareth Boury, que me ensinou a carpintaria básica, Maria Carmem Barbosa, Marcílio Moraes e Max Mallmann. Aliás, foi através do Max e de meu querido Tide (minha gratidão eterna aos dois), que fui indicado para o processo seletivo da Oficina de Teledramaturgia no ano passado, que contou com centenas de candidatos. Consegui fazer parte da turma de 16 alunos e ser um dos contratados no final. Foi uma experiência riquíssima em todos os sentidos, pois além de aprender muito, fiz amigos incríveis e vivi as dores e delícias de se trabalhar em TV, com toda a pressão e suor a que se tem direito. Vencida essa batalha, tudo ainda está muito recente (tenho pouco mais de dois meses de contrato ainda). Estou fazendo pequenos trabalhos e ainda não posso adiantar as novidades. Sei que consegui uma vitória sensacional, que foi ter conseguido entrar, mas acredito que o verdadeiro desafio começa agora. Garra e vontade de trabalhar não me faltam. Vamos aguardar que, com certeza, vem coisa muito boa por aí.

SC - Obrigado pela entrevista! Os leitores do SuperCult agradecem sua amizade com esse espaço, e estão sempre de portas abertas para sua visita.
Eu é que agradeço, querido! É um prazer e um privilégio pra mim, pois além de um amigo querido, você conduz o SuperCult com talento e inteligência. SuperCult e Melão são parceiros! Obrigado pelo espaço. Sorte e sucesso para nós!