A construção do conhecimento pode seguir caminhos diversos e vertentes heterogêneas, que variam de acordo com a formação e o contexto sócio-cultural no qual o indivíduo está inserido. Discutir questões relacionadas ao mundo implica em trazer à tona clássicos que, há séculos atrás, já travavam discussões sobre as constantes transformações operadas no mesmo. Tais discussões, numa abordagem interdisciplinar, podem relacionar-se com diversas áreas ou enfoques, e seus resultados tendem a condizer com os processos e as histórias pessoas de vida de quem os observa.
O filme Ponto de Mutação (Mindwalk, 1990), baseado no livro homônimo de Fritjof Capra, e dirigido por Berndt Capra, tem como pano de fundo o diálogo entre uma física nuclear, um poeta e um político americano, ex-candidato a Presidência. O livro tem seu título baseado em um termo do I Ching, a partir do qual o método científico cartesiano é confrontado com outras correntes de pensamento, como a visão sistêmica (pregada como uma teoria da administração), e aplicada a diversas questões presentes na sociedade atual.
Os três protagonistas vivem situações de vida e têm visões do mundo distintas. O ponto de encontro dos três é um castelo medieval na França, onde ela passa férias com a filha. As duas não conseguem ter uma boa relação, dadas as constantes reminiscências da mãe e a preocupação excessiva dela com questões teóricas, esquecendo o mundo prático. O político e o poeta, por sua vez, são grandes amigos, embora de concepções divergentes, que resolvem deixar o mundo para trás e, por alguns dias, viverem naquele ambiente propício à reflexão. Lá, encontram a física que, decepcionada com a utilidade dada às invenções dela e de sua equipe, refugia-se num mundo paralelo.
A partir de um grande relógio, os três constroem juntos um conjunto de considerações acerca do universo. O relógio como metáfora que, para os primeiros grandes intelectuais da Renascença e da Ilustração, levou a uma nova consideração sobre Deus: o grande relojoeiro, arquiteto do universo. O diálogo entre os três, partido de Descartes e sua visão do mundo a partir de dois eixos, chegamos a Newton e dele passamos a Aristóteles e outros pensadores.
Para traçarmos uma melhor visão acerca do filme, partiremos de perguntas e expressões colocadas, a partir da qual é possível traçar uma análise das opiniões construídas.
“O homem é uma ilha”. O poeta traz uma visão do homem como um elemento que não pode viver isolado do mundo. Ser uma ilha significa estar à parte do que ocorre no mundo. A “ilha” de cada ser humano deve estar interligado ao “continente”, a sociedade na qual ele está inserido.
"O sistema da vida no universo. A essência da vida é a auto-organização”. De acordo com a visão da física nuclear, o universo segue uma lógica própria. O homem, como seu integrante, deve estar conectado com as transformações sofridas nele, seguindo os seus padrões. É esta a auto-organização, que se processa de forma constante.
“Nossas casas estão cheias de peles mortas”. De forma metafórica, é possível trazer o conceito biológico das “células mortas” para a transformação das ideias. As “peles mortas” poderiam, no caso, significar os conceitos, valores, crenças e ideias que ficam para trás, quando debatemos e criamos novas concepções.
“A dinâmica evolutiva básica não é a adaptação, é a criatividade”. A expressão dá a entender que o dinamismo do mundo em que vivemos faz com que as atitudes criativas – seja em relação à condução pessoal, seja em relação a questões sociais, políticas, econômicas ou ambientais – determinam a necessidade humana de encontrar formas de relacionar-se com o novo.
“Não evoluímos no Planeta, mas com o Planeta”. Como ser integrante do universo, o homem passa a evoluir em conjunto com ele. Sofre alterações que o levam, necessariamente, a conviver com os contextos impostos pelas mudanças universais.
No filme, são discutidas questões que permanecem extremamente atuais, como o desgaste ambiental sofrido pelo planeta, a situação político-econômica de alguns países, onde podemos destacar as considerações da física nuclear sobre o Brasil, que destrói suas grandes florestas, consideradas “o pulmão do mundo” numa concepção eurocêntrica.
Cada um dos personagens do filme pode trazer ensinamentos para a relação do homem com o conhecimento produzido por ele mesmo; e com os mistérios do universo, discutidos seja no campo científico, seja no campo metafísico. Tudo que existe interliga-se de forma direta ou indireta, criando um campo sistêmico, uma “teia” universal de relações. Tal conhecimento pode-se aplicar à produção científica, no ato de relacionarmos, de forma interdisciplinar, os conhecimentos e conceber, a partir desta relação, uma ideia que traga contribuições para a sociedade.
O filme ótimo!
ResponderExcluirmas deve ser visto por pessoal que realmente desejam conhecimento!
q pena q nem todos conseguem digerir os conhecimentos mostrados no filme!
fazer o q né?!!!