domingo, 7 de novembro de 2010

"Clandestinos" - O teatro como a TV nunca viu



"O palco é seu". Em noventa segundos, você tem a chance de mostrar o seu talento. Esse foi o princípio utilizado por João Falcão, em maio de 2008, para selecionar atores que estrelariam uma peça, então, em branco. Um trabalho que seria construído com e pelas histórias de cada um dos envolvidos no processo. Uma peça sobre os sonhos de centenas de amadores na selva de pedra que se tornou o mundo artístico. Loucura? Talvez sim. E muita gente pensou que fosse. Mas, na última quinta-feira, a "loucura" de João Falcão ganhou espaço na programação da Rede Globo em forma de série. Clandestinos - O sonho começou é a nova e inovadora série da emissora, que visa mostrar, com atores que interpretam a si mesmos, a história de centenas de sonhos em xeque, num palco, em noventa segundos.

Na metalinguagem proposta, Fábio (Fábio Enriquez) é o alter-ego do autor da série (escrita em parceria com Guel Arraes) que, com o sonho de escrever uma peça inovadora, conta com a ajuda da racional amiga e ex-namorada Elisa (Elisa Pinheiro). Selecionando atores, ele se depara com a vida e os sonhos de centenas de jovens, dos quatro cantos do Brasil.

Uma delas é Adelaide (Adelaide de Castro), mineira de Três Corações, a mais velha de sete irmãos, em uma família simples, que larga a cidade em busca do estrelato no Rio de Janeiro. Imaginando encontrar um artista em cada esquina, Adelaide depara-se com a impessoalidade da cidade grande. Acompanhada apenas de seu sonho e de seu saxofone, cai de cabeça no mundo-cão, que pode, porventura, transformar-se no céu cor-de-rosa que idealizou.

Logo no primeiro episódio, revemos também Giselle e Michelle Batista, as "gêmeas de Malhação", e a dureza de duas atrizes gêmeas em um mundo em que "basta um". Nos seguintes, novos protagonistas surgirão: a nordestina Chandelly, que esconde a origem e o sotaque, temendo ver sua oportunidade ir pelo ralo; Emiliano, o Pedro Bala, por sua vez abusando da "baianicidade" pra virar artista; a já atriz da Globo, Nanda Costa, dentre outros.

A ideia original, inovadora, tem muito daquilo que a televisão necessita nos dias atuais. O diálogo entre gêneros e mídias, que poderia ser a grande perdição do trabalho, mostrou, pelo menos no primeiro episódio, ser a grande vedete deste: a sensibilidade do teatro mostrada na massiva televisão, sem perder sua essência, mas tirando desse segundo meio aquilo que ele tem de melhor.

A sonoplastia foi perfeita. A trilha sonora de cada personagem parecia descrevê-lo. Belchior na primeira cena, Gilberto Gil e seu "Lamento Sertanejo" embalando os passos de Adelaide rumo à cidade grande, e a bela nova voz feminina entoando "Se eu quiser falar com Deus", ao som do sax da grande mocinha nessa estreia, emocionaram, fazendo-nos torcer, levando-nos a ser parte deste grande sonho que começava.

Clandestinos me trouxe à identificação imediata desde suas chamadas. A estreia me levou a, se é que era possível, uma identificação ainda maior. Cada um de nós poderia estar retratado nos personagens da série: com nossos sonhos, pelos quais lutamos, pelos quais temos as maiores expectativas. Quantas vezes não ficamos nervosos, esperando a ligação que nos trará a boa ou má notícia? Preferimos esquecer que ligariam... Também é horrível viver à sombra dos outros. Por outro lado, ainda há pessoas com desprendimento para abrir mão dos próprios sonhos em prol dos nossos. Devemos ou não aproveitar essa oportunidade? Quantas vezes nos pegamos desesperados, tocando nossos saxes imaginários, procurando falar com Deus, nosso único esteio em momentos difíceis? Não vale tudo para se alcançar nossos objetivos, mas vale sonhar alto. Um dia, o sonho pode se tornar realidade.

5 comentários:

  1. A série é mesmo uma feliz surpresa na televisão, com sua linguagem que bate de modo diferente, quando estamos acostumados a uma receita mais comum, sem que tenhamos que parar muito para pensar em relações e paralelos com a vida real e, aquela que fascina, a vida de artista. Todos de parabéns.

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  2. Alan Castelo Branco Cerqueira de Aguiar7 de novembro de 2010 às 11:36

    Quando vir anunciarem o seriado “Clandestinos” da rede Globo, logo de cara me envolvi pelo nome, pois tal, já fala: entram nesta “selva de pedra” sem guias as escondidas, se assim posso dizer... Então é muito interessante, pois iria mostra uma realidade de fato não o que a mídia mostra atualmente. Iremos lhe dar com histórias árduas! De pessoas que se sacrificaram para conseguir estes 90seg de estrela; em um palco que, mas na frente poderá se torna permanente... E logo em seu primeiro dia, já fiquei muito emocionado com a historia da menina da cidade de Três Corações, que não tinha onde ficar, mas, assim, mesmo não desistiu do seus sonho...Assim ate o fim desta série iremos aprender muito com ela...

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  3. Bem, não pude ver a estreia da série, mas acho muito interessante a metalinguagem proposta. Ela traz um ar de realidade e novidade que nossa TV tanto precisa e busca, sem, muitas vezes, atingir o objetivo.

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  4. Tambem nao pude ver a estreia, mas adorei essa proposta. Tô louco pra ver e tirar minhas conclusões. Fico com o ótimo texto do Super Cult como primeiro parâmetro!
    :)

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  5. Confira no Youtube, TH. O episódio tá lá completinho, e vale muito a pena. ;)

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