quarta-feira, 23 de março de 2011

Perfumes, músicas e lugares de memória


"A recordação é o perfume da alma. É a parte mais delicada e mais suave do coração, que se desprende para abraçar outro coração e segui-lo por toda parte" (George Sand)

Perfume... fragância de lembranças. Extrato sensorial, sinestésico, de uma parcela de nossa vida, que volta à tona quando o sentimos novamente. Ah, e que lembranças, que lembranças nos trazem, que sensações nos despertam, novamente e, às vezes, mais fortes que o momento original.

Todas essas divagações são resultados da aula de ontem de História e Memória. Quando, ao discutirmos Jacy Seixas, em seus "Percursos de memória em terras de história", quando a relacionamos com teóricos das mais diversas áreas, como Halbwachs, Proust e Bergson, Paul Ricoeur, e, principalmente, quando a discussão estrapola o texto acadêmico e se configura em um passeio por nossos sentidos, percebemos que nossas memórias mantém-se presentes, vivas, em lugares específicos, sejam eles físicos ou não.

Perfumes... aqueles que nos trazem de volta lugares, momentos e, principalmente, pessoas. Aquele perfume inesquecível que ela usava, e que, usado por qualquer outra mulher, sempre será dela. Dela, e de mais ninguém. Ali, na minha memória, aquele odor será único. Unicamente dela. Aquele que, para sempre, me lembrará momentos na Praça Irmãos Dantas, naquele banco bem diante da Igreja de Nossa Senhora do Carmo (ou em qualquer outro), que me fará recordar, para sempre, aquele dia, em frente ao portão de sua casa, olhando as estrelas no céu. Que me obriga a rever, mentalmente, aqueles olhos de ressaca, olhos de Capitu, oblíqua, dissimulada, sempre escondendo muito mais do que mostrava...

Porque eu sei que é amor
Eu não peço nada em troca
Porque eu sei que é amor
Eu não peço nenhuma prova
Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui, agora
Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir embora.

Por que raios os Titãs me perseguem, em minhas lembranças?! Pô, sempre eles! E eles, sempre, e mais uma vez, me levam a lembrar. A lembrar dela. Já no fim do nosso romance, quando passeávamos pela mesma praça, quando sentávamos no mesmíssimo banco, quando conversávamos debaixo das mesmíssimas estrelas no céu. Enquanto a mãe dela ligava pro seu celular e a mandava entrar logo em casa. Naqueles dias, um romance que nasceu particular, nervoso, principalmente da minha parte, terminou, também, de maneira particular. Com um abraço, um carinho e, se eu não tivesse resistido em meus propósitos, um beijo, que o reiniciaria.

A memória que, nesse caso, transformou-se em relicário. Guardada numa caixinha, como passado, por vezes presentificado, traz saudade. O mais engraçado de tudo é que a saudade, nesse caso, termina sendo melhor que o momento - esse recheado de nervosismo, inexperiência, uma certa angústia.

Como saber de que forma sentimos, de que forma encaramos e como convivemos com nosso passado e nossas percepções?

Provavelmente, nunca saberemos.

3 comentários:

  1. Muito bonito, esse texto.

    Não sabia que você era tão poético. Surpresa boa!

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  2. Em breve Titãs no teu textinho pro EntHULHO...

    Mas por ora, delicio-me com o sabor de suas palavras!

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