terça-feira, 7 de agosto de 2012

SuperCult entrevista Thelma Guedes

O SuperCult tem a honra de receber mais uma deliciosa participação. Autora de livros, bacharel em Letras e mestre em Literatura Brasileira, Thelma Guedes atuou na televisão como colaboradora de várias novelas, dentre elas Chocolate com Pimenta e Alma Gêmea, de Walcyr Carrasco. Em 2006, iniciou sua parceria profissional com Duca Rachid, com quem adaptou para a Rede Globo a novela O Profeta, de Ivani Ribeiro, e com quem escreveu, na mesma emissora, as novelas Cama de Gato e Cordel Encantado. Passeando sempre entre muitos estilos como dramaturga, sem perder fortes marcas autorais, a parceria Thelma/Duca tem se firmado como uma das mais promissoras na teledramaturgia contemporânea.

Thelma Guedes, em fotografia de Cristina Granato

Com delicadeza e simpatia, Thelma traz algumas de suas reflexões a respeito de seus trabalhos e do próprio gênero dramatúrgico.

SC– Como vai, Thelma? Em primeiro lugar, é um prazer tê-la como entrevistada no blog. Gostaria que você começasse falando como começou seu interesse pela escrita e, especialmente, pelas novelas.

Meu interesse começou quando eu era menina ainda. Desde que li os primeiros livros, meu sonho passou a ser me tornar escritora. Eu sempre fui apaixonada pela literatura. Fiz o bacharelado em Letras e o mestrado em Literatura Brasileira. Mas, embora eu adorasse assistir novelas, meu desejo era escrever livros. A televisão aconteceu quase por acaso. Eu trabalhava como divulgadora na editora da Universidade, na época da pós-graduação, e estava para lançar meu primeiro livro de contos, em 1997, quando vi num quadro de avisos que estavam abertas as inscrições para uma oficina de roteiro da TV Globo. Eu me inscrevi com o primeiro roteiro que escrevi na vida. Nem sabia que sabia escrever roteiro... Fui selecionada para cursar a oficina e acabei sendo contratada como roteirista em 1997. Trabalhei em alguns programas, até chegar nas novelas, como colaboradora. Em 2006 escrevi minha primeira novela com a Duca Rachid. E agora estamos começando a trabalhar na nossa quarta novela, que deverá entrar no ar em setembro de 2013.
SC – “Adaptar é trair por amor”. O que essa frase significa, quando você pensa no remake de O Profeta?

Eu disse essa frase no programa do Faustão, na época do lançamento da novela. Foi algo que ouvi a Duca repetir muitas vezes. Uma afirmação que ela ouviu de Walter George Durst, com quem a Duca trabalhou antes de vir para a Globo. Durst era um grande mestre, que escreveu adaptações maravilhosas, algumas que se tornaram clássicos da televisão, como Gabriela e Grande Sertão Veredas. O que ele disse é uma grande verdade. A adaptação sempre exige certas “traições” em relação à obra original. Não é possível mantê-la intacta. Mas as mudanças devem ser sempre para atualizá-la e manter sua força, seu brilho. No caso de O Profeta, cujo original foi escrito pela Ivani Ribeiro em 1978, muita coisa precisou ser alterada, para mantê-la interessante aos olhos do público de 2006. Além de criarmos núcleos de comicidade, que na original não havia. Acho que a maior mudança que fizemos foi criar um impedimento mais concreto para o amor entre o casal protagonista. Criamos um vilão forte, o Clóvis, que na primeira versão não era vilão. Mas a essência da história da Ivani estava lá! Mantida, exatamente como na primeira versão.
SC – Cama de Gato foi marcada por uma trama de viradas constantes e por uma narrativa acelerada, que prenderam a atenção dos espectadores. Como surgiu a ideia da novela?

A ideia de “Cama de Gato” surgiu quando Duca e eu estávamos escrevendo outra sinopse, que na verdade iria mais tarde se tornar “Cordel Encantado”. Nos intervalos do nosso trabalho, a gente saía para almoçar ou tomar um café e ficávamos “filosofando” a respeito de um sentimento que ambas tinham sobre o mundo atual, onde as pessoas estão cada vez mais individualistas, sem delicadeza, sem alteridade e empatia. Numa dessas vezes, estávamos no restaurante e vimos um sujeito rico, muito esnobe e arrogante tratando mal o garçom. A gente começou a pensar se aquele sujeito estivesse perdido no meio do deserto, sem um tostão no bolso, sem cartão de crédito, sem documentos, sem o celular, como é que ele ia reagir. Será que, se colocando numa posição de desamparo, ele se transformaria? De certa forma, aí nasceu o Gustavo. Aí a Duca se lembrou de um livro que ela tinha lido sobre uma tese de uma rapaz que se vestiu de faxineiro e que não foi reconhecido pelos colegas professores da universidade. Foi então que criamos a faxineira Rosenilde. Uma mulher humilde e íntegra, que seria a única a ajudar este homem altivo e esnobe, quando ele perdesse o poder. E por aí fomos montando a história...
SC – Como historiador, percebi em Cordel Encantadouma multiplicidade de referências. Por acaso o Armorialismo foi uma delas? Se sim, como ele foi aproveitado por você e por Duca na construção da história?

Sim, foram muitas as referências que usamos. Muitas mesmo! Como na literatura de cordel, Duca e eu sentimos que nesta novela podíamos usar tudo o que conhecíamos, misturar tudo, sem pudor: contos de fadas, histórias reais de cangaceiros, clássicos da literatura de capa e espada, histórias medievais, peças de Shakespeare, tragédias gregas e, claro, a obra de Ariano Suassuna. Uma obra que de certa forma também faz esse tipo de mistura.
SC – Como você vê a recepção das telenovelas no ambiente universitário? Ainda há muito preconceito?

Acredito que uma obra feita com qualidade acaba sendo reconhecida por todos os públicos. Acho que o preconceito em relação à telenovela no ambiente universitário quase não existe mais. Porque todo preconceito é uma forma de ignorância. E não tem sentido existir preconceitos num local onde as pessoas estão buscando o conhecimento e a sabedoria.

SC - Thelma, muitíssimo obrigado pela entrevista! O SuperCult agradece, em nome de seus leitores, pela oportunidade de privar de suas palavras e opiniões. Abraços!

3 comentários:

  1. Parabéns pela entrevista, Fábio. Simples e direta! Sucesso a Thelma e ao blog. Abraços!

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  2. Valeu, Duh! Saudade de papear contigo. Bom saber que continua conosco no Cult. ;)

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