terça-feira, 30 de novembro de 2010
Das (in)contigências acadêmicas
Sob esta enxurrada de metáforas e eufemismos, o certo é que tenho trilhado o caminho dos tijolos dourados, rumo a um objetivo. A princípio, "caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento", "ao sabor do vento", e sem muita responsabilidade sobre a chegada. Mas a trilha foi se tornando mais clara, e as possibilidades de chegar ao destino desejado também. E fui me apaixonando por essa caminhada. Ao longo dela, fiz amizade com aqueles que, como eu, trilhavam o mesmo caminho. Muitos (e talvez eu mesmo) olhavam para os outros, a princípio, pensando em derrubá-los na próxima ponte cabaleante. Mas, quer saber? Melhor é caminhar junto, e compartilhar, ao longo do caminho, das paisagens e da expectativa. Que delícia é ter companhia pra passar nervoso, pra roer a unha, pra esperar por aquele que não marcou de vir (naquele momento)! Por vezes, quase caí na areia movediça. Mas me estenderam a mão: justo aqueles que poderia me deixar ali, sendo consumido pela terra traiçoeira. O que seria melhor pra eles, claro. Mas, talvez, aqueles que junto comigo faziam a travessia, estavam pensando como eu.
Ao longo da jornada, muitos foram eliminados. É como um grande Big Brother, com 85 participantes. É, um jogo duro, duríssimo! A diferença é que 23 ganharão o grande prêmio. A gente olha pra trás, vê quanta gente ficou pelo caminho, e já se sente vitorioso. Eu cheguei aqui! Justo eu, aquele que pensava que tudo não passaria de uma grande brincadeira (de ET)!
Mas chega um ponto em que todo o caminho foi percorrido, e a fortaleza de gelo (ou de cristal, ou de ferro, ou, quem sabe, de guloseimas, como a casa de bruxa em João e Maria...) está de portas fechadas, prontas para abrir apenas para os escolhidos. Ah, os escolhidos... aqueles que penetrarão num caminho ainda mais difícil e tortuoso. Aquele que navegará por mares nunca dantes navegados. Mas delicioso de tão enigmático.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Que saudade dos 80!
Nasci em 1989, justo no fim da festa que foram os anos 80. Tudo podia numa época que suscedia os duríssimos "anos de chumbo". O fim da ditadura trouxe ao Brasil o símbolo da liberdade (e, por que não, da libertinagem), expressa nos programas de TV, cada dia mais saidinhos, no colorido das roupas, nas atitudes, nos falares. Os pais de crianças nos anos 80 eram filhos de homens e mulheres conservadores, católicos fervorosos. Muitos, membros da TFP (sabe o significado da sigla? Não? Dá um Google, rapaz!). Depois de uma infância e uma adolescência regrada, restrita, resolveram "liberar geral". Seus filhos podiam tudo! E brincavam soltos, assistam, dançavam, cantavam, vestiam o que queriam.
As menininhas queriam ser a Xuxa - usar seus cabelos amarrados dos dois lados, usar seus microshorts e cantar o Ilariê. Os meninos também queriam Xuxa, mas em outro sentido... e nesse mesmo sentido, queriam também Sandra Bréa, Cláudia Raia, Luciana Vendramini, Luiza Brunet, Cláudia Ohana... ai! Os mais novos, não tavam nem aí: queriam mais era assistir o Balão Mágico toda manhã. E o Bozo? Mania nacional!
Aos domingos, todo mundo ia tomar suas doses diárias de cultura trash assistindo o Chacrinha, e acompanhando ele tocar uma corneta insuportável no ouvido dos calouros ruins, entregando-lhes um abacaxi. Todos adorávamos ver Elke Maravilha, as chacretes, e as novas bandas, que tiveram sua primeiríssima oportunidade no palco do Velho Guerreiro. Mais tarde, "é Fantástico!". Breguinha toda vida, as mulheres saindo de dentro d'água ao som da música de abertura que embalava os atores da Globo cantando sucessos nacionais, as novidades da ciência e o fim da corrida especial, em plena Guerra Fria.
Esqueci de alguém? Claro! Ninguém também perdia os Trapalhões. E todos assistíamos às impagáveis peripêcias de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Só mais tarde percebemos que as verdadeiras estrelas, ao desaparecerem, deixavam outras sem luz própria...
Durante a semana, quando a noite chegava, mais uma vez, todos estavam diante da TV. E dá-lhe a melhor safra de novelas de todos os tempos: às 19h, acompavam-se os sucessos de Sílvio de Abreu e Cassiano Gabus Mendes. Quem não lembra da cena em que Charlô e Otávio se emporcalhavam na mesa de café-da-manhã em Guerra dos Sexos? Ou as alfinetadas de Jacque L'eclair e Victor Valentin na 1ª versão de Ti Ti Ti? Quem não tentou sacudir o relógio igualzinho o Sinhozinho Malta, dizendo "tô certo, ou tô errado?". E quantos de nós nos dividimos entre a honestidade de Raquel Acciolli e as adoráveis sacanagens de Maria de Fátima, em Vale Tudo?
Ah, os anos 80... quem era criança mal podia esperar as férias. Pé na tábua! Todos viajam para a casa da vovó, no interior, onde podiam correr com os pés descalços, banhar no rio, fazer brinquedo de papel, brincar de pega-pega ou de pique-esconde. E quando dava briga? Chororô geral, mas tudo se resolvi ali. Ninguém corria pra contar pro pai. E quando dava beijo? Era pêra, uva, maçã... mas tinha também quem escolhesse a salada-mista. Sorte dos garotos saidinhos quando aparecia uma menina espevitada...
E os desenhos? Quem nunca assistiu ao He-Man e à She-Ra? Aos Thundercats? Ao Capitão Caverna? Ao Manda-Chuva? À Família Buscapé?
E os jogos? Quem nunca bateu cabeça com o Genius? Quem não lembra do Odissey, concorrente do Atari?
E as lendas urbanas? Todo mundo tinha medo de ir no banheiro do colégio, temendo ser atacado pela loira do banheiro. Comer o pirulito do Zorro? Nunca! Quando os pais davam às costas, todo mundo ia rodar ao contrário o disco da Xuxa ou do Menudo, pra saber se tinha mesmo ali uma mensagem satânica. E quem tinha o boneco do Fofão mantinha-o bem longe da cama, à noite...
É. Acreditavam no Brasil. E todo jovem que era jovem era também engajado. Todo mundo cantou junto com Cazuza no Rock in Rio, quando esse enunciava "que o dia nasça feliz pra todo mundo amanhã". No amanhã que Cazuza previa, o Colégio Eleitoral elegeria Tancredo Neves, e a esperança da redemocratização tornava-se mais sólida. Todos queriam ser os descamisados do Collor, ou cantar o "Lula Lá". Dois anos depois, os mesmos que entoaram os jingles eleitorais entoavam o Hino Nacional, vestidos de preto e pintados de verde e amarelo, gritando "Fora Collor!".
Quem viveu os 80 jamais esquecerá os melhores anos de sua vida. Quem não viveu tem saudade. Saudade e inveja. Inveja daqueles que eram felizes e não sabiam. E têm de amargar uma época irritante de tão politicamente correta...
domingo, 7 de novembro de 2010
"Clandestinos" - O teatro como a TV nunca viu
"O palco é seu". Em noventa segundos, você tem a chance de mostrar o seu talento. Esse foi o princípio utilizado por João Falcão, em maio de 2008, para selecionar atores que estrelariam uma peça, então, em branco. Um trabalho que seria construído com e pelas histórias de cada um dos envolvidos no processo. Uma peça sobre os sonhos de centenas de amadores na selva de pedra que se tornou o mundo artístico. Loucura? Talvez sim. E muita gente pensou que fosse. Mas, na última quinta-feira, a "loucura" de João Falcão ganhou espaço na programação da Rede Globo em forma de série. Clandestinos - O sonho começou é a nova e inovadora série da emissora, que visa mostrar, com atores que interpretam a si mesmos, a história de centenas de sonhos em xeque, num palco, em noventa segundos.
Na metalinguagem proposta, Fábio (Fábio Enriquez) é o alter-ego do autor da série (escrita em parceria com Guel Arraes) que, com o sonho de escrever uma peça inovadora, conta com a ajuda da racional amiga e ex-namorada Elisa (Elisa Pinheiro). Selecionando atores, ele se depara com a vida e os sonhos de centenas de jovens, dos quatro cantos do Brasil.
Uma delas é Adelaide (Adelaide de Castro), mineira de Três Corações, a mais velha de sete irmãos, em uma família simples, que larga a cidade em busca do estrelato no Rio de Janeiro. Imaginando encontrar um artista em cada esquina, Adelaide depara-se com a impessoalidade da cidade grande. Acompanhada apenas de seu sonho e de seu saxofone, cai de cabeça no mundo-cão, que pode, porventura, transformar-se no céu cor-de-rosa que idealizou.
Logo no primeiro episódio, revemos também Giselle e Michelle Batista, as "gêmeas de Malhação", e a dureza de duas atrizes gêmeas em um mundo em que "basta um". Nos seguintes, novos protagonistas surgirão: a nordestina Chandelly, que esconde a origem e o sotaque, temendo ver sua oportunidade ir pelo ralo; Emiliano, o Pedro Bala, por sua vez abusando da "baianicidade" pra virar artista; a já atriz da Globo, Nanda Costa, dentre outros.
A ideia original, inovadora, tem muito daquilo que a televisão necessita nos dias atuais. O diálogo entre gêneros e mídias, que poderia ser a grande perdição do trabalho, mostrou, pelo menos no primeiro episódio, ser a grande vedete deste: a sensibilidade do teatro mostrada na massiva televisão, sem perder sua essência, mas tirando desse segundo meio aquilo que ele tem de melhor.
A sonoplastia foi perfeita. A trilha sonora de cada personagem parecia descrevê-lo. Belchior na primeira cena, Gilberto Gil e seu "Lamento Sertanejo" embalando os passos de Adelaide rumo à cidade grande, e a bela nova voz feminina entoando "Se eu quiser falar com Deus", ao som do sax da grande mocinha nessa estreia, emocionaram, fazendo-nos torcer, levando-nos a ser parte deste grande sonho que começava.
Clandestinos me trouxe à identificação imediata desde suas chamadas. A estreia me levou a, se é que era possível, uma identificação ainda maior. Cada um de nós poderia estar retratado nos personagens da série: com nossos sonhos, pelos quais lutamos, pelos quais temos as maiores expectativas. Quantas vezes não ficamos nervosos, esperando a ligação que nos trará a boa ou má notícia? Preferimos esquecer que ligariam... Também é horrível viver à sombra dos outros. Por outro lado, ainda há pessoas com desprendimento para abrir mão dos próprios sonhos em prol dos nossos. Devemos ou não aproveitar essa oportunidade? Quantas vezes nos pegamos desesperados, tocando nossos saxes imaginários, procurando falar com Deus, nosso único esteio em momentos difíceis? Não vale tudo para se alcançar nossos objetivos, mas vale sonhar alto. Um dia, o sonho pode se tornar realidade.
sábado, 30 de outubro de 2010
10 filmes que você não pode deixar de ver
10. Instinto Selvagem (1992)
Ninguém precisa dizer o óbvio. Desde a primeiríssima cena, está estampado na cara que a amoral Katherine Tramel (Sharon Stone, cuja beleza dispensa comentários) é a responsável pelo assassinato. Mas nada melhor do que vê-la enlouquecendo Nick Curran (Michael Douglas, no lugar que eu gostaria de estar) com seu ar blasé, fazendo seu enigmático cruzar de pernas, povoando cabeças cheias de hormônios acariaciando outra mulher na boate e protagonizando uma das cenas eróticas mais marcantes de nosso cinema. O filme, apesar dos pesares, mostrou que é possível trabalhar o erotismo sem apelações. E deixa-nos com mais dúvidas do que respostas no final. A sequência filmada em 2006 deixou muito a desejar, mantendo do original apenas a sensualidade à flor da pele da agora quarentona Sharon.
9. Rei Leão (1994)
O clássico da Disney é uma das mais belas produções que a película dos irmãos Lumiére já transmitiu. Emocionante e contagiante, é impossível ficar indiferente às clássicas cenas que retratou: a apresentação de Simba ao "reino", a morte de Mufasa, o reencontro com Nala. Timão e Pumba são um capítulo à parte, ganhando filme, série e toda uma gama de produtos próprios. A trilha sonora de Elton John marcou época, em especial a mais que tocante "Can You Feel The Love Tonight".
8. Tempos Modernos (1936)
O clássico de Charles Chaplin encanta com palavras de menos e significados de mais. As impagáveis peripécias de Carlito na fábrica onde trabalhava eram um reflexo do taylorismo, tendências mecanista vigente na Revolução Industrial que se vivia. Mesclando momentos cômicos e dramáticos, nos emocionamos com o relacionamento do adorável vagabundo e uma jovem pobre. Tudo ao som da belíssima "Smile", de autoria do próprio Chaplin.
7. Grease - Nos Tempos da Brilhantina (1978)
Adoro musicais! E esse é, sem dúvida, um dos mais adoráveis de todos os tempos. O casal-ternurinha formado por John Travolta e Olivia Newton-John eram o adorno para uma história recheada de toda a magia dos inocentes anos 50. Na trilha sonora, a mais marcantes de todas é "Summer Nights", cantada por praticamente todo o elenco do filme.
6. Hair (1979)
Outro musical para a minha lista de prediletos. Enquanto Grease enfocou os anos 50, aqui tínhamos os Estados Unidos, dividido entre o dever cívico de lutar na Guerra do Vietnã e o ideal hippie do "faça amor, não faça guerra". A trilha não ficava atrás, com a excelente "Age of Aquarius" da abertura, e "Let the Sunshine In" do final. Por trás da comicidade e das situações surreais retratadas, havia uma grande mensagem.
5. O Último Tango em Paris (1973)
Numa vibe mais clássica que a de Instinto Selvagem, e visivelmente mais erudita, O Último Tango em Paris escandalizou o mundo em 1973, anos de seu lançamento. O filme de Bernardo Bertolucci causou com a polêmica cena da manteiga, onde Marlon Brando descobre que existem outros meios de se "confraternizar-se" com Maria Schnneider. Aqui, também, a pornografia ficou de lado, e o alto teor de sensualidade em nada fazia do filme algo promíscuo. Boa pedida para qualquer amante da sétima arte.
4. O Nome da Rosa (1986)
Eu sei, você vai dizer que o livro foi melhor. E eu concordo. Mas enquanto a obra de Umberto Eco valorizava a erudição, trazendo à luz elementos da intelectualidade perdida nos calabouços da Idade Média, o filme francês de Jean-Jacques Annaud valorizou seu caráter de suspense. O thriller tomou conta, e fez de Guilherme de Baskerville e Adson (Sean Connery e Christian Slater) alter-egos de Sherlock Holmes e Watson. No mais, o clima noir da abadia beneditina onde a história se passava, a trama diabólica que a lógica do frade franciscano fez desvendar, e as considerações de Adson, dividido entre o amor divino e o amor carnal, valem a pena todo o filme.
3. Ben-Hur (1959)
Protagonizado por Chalton Heston, o queridão dos épicos da década de 50, Ben-Hur é um clássico pela opulência de sua produção, em uma época em que efeito especial era feito no braço, não nos cliques de um computador. A história, baseada no clássico da literatura, contava a história de Judah Ben-Hur, de judeu influente a escravo nas galés romanas, e desta função a um retorno triunfal, marcado por uma emocionante corrida de bigas. Todos os elemento, responsáveis pelos absurdos 11 Oscars, são mais que suficientes para passar mais de três horas diante da tela.
2. A Bela e a Fera (1991)
Para mim, o maior clássico da Disney em todos os tempos. Venceria obras e obras cinematográficas com atores. História forte e envolvente, marcações expressivas de interpretação (sim, se Bela fosse interpretada por uma atriz real mereceria o Oscar de Melhor Atriz pela cena em que fala "venha para a luz" à Fera), uma trilha sonora de arrasar quarteirão e alguns dos diálogos mais geniais da história. Para contar, o melhor de todos, no qual a Fera, insegura sobre a forma como conquistar Bela, pede conselhos ao candelabro Lumiére, que lhe responde: "Ora, o de sempre: flores, galanteios, promessas que você não pode cumprir..."
1. Cinema Paradiso (1988)
Sem comparações. A emocionante história de Salvatore, um cineasta conceituado na Itália, rememorando sua infância, onde era um jovem pobre conhecido como Totó, e sua lírica amizade com o cinematógrafo Alfredo. Talvez o filme mais sensível que já assisti em toda a vida. Fez parte de um momento marcante de minha vida acadêmica, que ficará para sempre na memória, e espero poder compartilhar, através destas imagens, com todos os leitores.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Como é que se diz "vote em mim"?
Estamos no segundo turno das eleições presidenciais, e em alguns estados (inclusive o meu) teremos a oportunidade (ou obrigação?) de ir às urnas novamente. Nesse contexto politizado, me vejo no dever de postar sobre política. Eu sei, você está cansado das promessas, da demagogia, da cara "óleo de peroba" de muitos que se elegeram por aí. Mas, né? Precisamos discutir isso, por mais chato que pareça. É o futuro do nosso país. Votar bem é escolher os rumos dessa nação que nasceu torta.
E, nesse momento, a democracia apresenta um de seus artifícios mais interessantes, e o que de fato fica desse momento: o marketing político, o andamento das campanhas, os debates, enfim. A palavra de ordem não é mostrar o candidato como ele é, e sim "vendê-lo" ao eleitor da melhor forma, levando a ser aquilo que o eleitor quer (ou pensa querer) que ele seja. Já tivemos as mais variadas formas de ganhar votos, dentre as quais se destacou a famosa "vassourinha" de Jânio Quadros, em 1960. Aqui vem uma análise sucinta das campanhas presidenciais no Brasil desde a redemocratização até as eleições de 2006.
1989 - Eu quero ser candidato a presidente!
Em 1989, o Brasil e os brasileiros estavam todos trabalhados no otimismo. Saíamos de uma ditadura, que exilava e matava inimigos, censurava a imprensa e impedia o aparecimento de partidos políticos. Estávamos com um sorriso de orelha a orelha por poder votar a presidente da República. No fundo, poucos estavam se importando com os reais problemas do país. A inflação chegava a proporções astronômicas, o desemprego rolava solto, o "milagre econômico" era uma falácia. Nessa festa que se estabelecia, todos queriam ser presidentes. As coligações praticamente inexistiram, e os partidos queriam lançar a todo custo representantes próprios na eleição majoritária. Tivemos, então: Ulysses Guimarães (PMDB), Luís Inácio Lula da Silva (PT), Leonel Brizola (PDT), Mário Covas (PSDB), Aureliano Chaves (PFL), Guilherme Afif Domingos (PL), Paulo Maluf (PDS), dentr outros. Até mesmo Sílvio Santos ("quem quer dinheiro aí?"), ele mesmo, articulou sua candidatura, sendo impugnado por problemas no registro.
Era um momento de indefinição. Enquanto muitos rejeitavam Ulysses, então presidente da Câmara dos Deputados, e Brizola, por seu tom esquerdista, o candidato mais cotado a ganhar a eleição era Lula, operário e sindicalista, defensor dos direitos dos trabalhadores. A direita não gostou nada, e veio com sua ofensiva: lançou um nome praticamente desconhecido nacionalmente, Fernando Collor de Mello, o jovem e arrojado ex-governador de Alagoas, candidato pelo PRN (Partido da Reestruturação Nacional. Ideologia? A gente não se vê por aqui...), que começou a ganhar espaço no cenário.
Lula pautava sua campanha na causa esquerdista. Seu programa no horário eleitoral lançou a TV Lula (imitando o JN e a TV Pirata da Globo) e o jingle "Lula Lá", entoado por jovens e artistas em todo o país. Enquanto isso, Collor, arrojado, preparado pelo marketing, investiu na figura de "caçador de marajás" e "defensor dos descamisados", ganhando o eleitorado jovem. Muitas mulheres, à época, votaram em Collor por acharem-no "lindo" (ai, meu saco...).
Collor e Lula foram para um apertado segundo turno. Mas o primeiro tinha "a força". A força da imprensa. Forte apoio da Rede Globo, demonstrado no último debate, ajudou a construir e maquiar Collor. A edição do debate no JN simplesmente retratou os melhores momentos de Collor e os piores de Lula. Some-se isso ao fato político encontrado por Collor, de uma filha bastarda do sindicalista, que contribuiu para uma rejeição das famílias ao candidato. Deu no que deu: Collor se elegeu com 49% dos votos no 2º turno, contra 44% de Lula.
1994 - "Avançar, seguir em frente"
Menos movimentada e emocionante que a de 1989, a eleição ficou polarizada entre Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT). Ela era um resultado do conturbado período anterior, marcado pelo impeachment de Collor e a subida ao Planalto de Itamar Franco, seu vice. A palavra de ordem dessa eleição era a economia, e Fernando Henrique, ministro de Itamar, tinha ajudado a barrar a inflação com o arrojado Plano Real, feito a várias mãos e coordenado por FHC.
Na campanha, imperou o lema "avançar, seguir em frente" de FHC. O Brasil precisava de estabilidade, e ele era a figura que podia oferecê-la: essa era a imagem vendida. Também mostrou sua figura, de doutor em sociologia e professor universitário, sua relação com a família, sua esposa Ruth, igualmente socióloga e professora. O contexto era desfavorável a Lula, que continuava pregando o decreto de moratória à dívida externa. PSDB e PT, antes partidos com a mesma base esquerdista, iniciavam uma rivalidade histórica na política nacional. O resultado desse primeiro embate, no entanto, deu Fernando Henrique: 54% dos votos garantiram sua eleição no 1º turno.
No mais, Enéas Carneiro, do PRONA, lançava novamente sua candidatura a presidente. Com seu bordão "Meu nome é Enéas!", chamou a atenção pelo exotismo. (Vergonha própria: eu, então com cinco anos de idade, tinha medo mortal de Enéas! Meus pais precisavam desligar a TV na hora do horário político, senão o choro rolava!)
1998 - Plano Real versus Lulinha Paz-e-Amor
Mais uma vez, a eleição foi decidida no 1º turno. FHC arrebanhou 53% dos votos, na onda da estabilidade econômica alcançada pelo país em seu governo, muito graças ao Plano Real estabelecido anos antes. Quanto a Lula, percebeu que seu posicionamento radical não cabia mais e resolveu adotar uma postura mais moderada. Surgia, assim, o chamado "Lulinha Paz-e-Amor". A terceira via, dessa vez, ficou por conta de Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, remanscente do PSDB e um dos criadores do Plano Real, que se filiara ao PPS.
2002 - Onde o marketing faz a diferença
Em 2002, o contexto do Brasil era outro. O antes popular governo FHC perdia espaço, graças à postura neoliberal, materializada nas privatizações. O alto nível de desemprego, advindo da crise econômica, também não colaborava e, mesmo tendo como seu candidato o ex-ministro da saúde José Serra, responsável pela criação dos remédios genéricos, PSFs e a quebra de patente dos medicamentos contra a AIDS. Além disso, meses antes das eleições, ajudou a derrubar a pré-campanha da então aliada Roseana Sarney (PFL) com os escândalos de corrupção envolvendo Jorge Murad, seu marido. Para referendar as alianças tortas, o PSDB formou chapa com Rita Camata, do PMDB.
Enquanto a base de governo implodia em crises de coligações, o PT encontrava o flanco para, finalmente, chegar à alta magistratura do Brasil. Lula, antes um metalúrgico socialista que defendia a moratória, assumiu de vez o Lulinha Paz-e-Amor. Firmou apoio com o empresariado, tendo como vice o senador José Alencar (PL). Tendo seu marketing elaborado pelo publicitário Duda Mendonça, Lula mudou de cara. Sua propaganda, apresentando uma proposta por dia, mostrava uma equipe técnica de seu partido em uma sala de reunião, "discutindo o Brasil". Queria passar confiança ao povo brasileiro, e conseguiu: em segundo turno contra José Serra, após passar para trás Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB), elegeu-se presidente com 61% dos votos válidos.
2006 - A "avalanche lulista" versus o "Brasil decente"
Em 2006, o Brasil acabara de passar pelo escândalo do mensalão, uma crise legislativa e executiva sem precendentes. No entanto, a alta popularidade do governo se fazia sentir por conta do Bolsa Família, programa de redistribuição de renda que fez a popularidade do presidente, em especial pelas alas mais pobres da população. Nesse contexto, seria possível vencê-lo? O PSDB achou que sim: após enorme disputa interna, José Serra abdicou da corrida presidencial e Geraldo Alckmin foi a bola da vez.
Enquanto Lula pautava sua campanha nos programas sociais de seu governo, Alckmin fazia oposição, usando como espelho o trabalho feito pelo seu governo e o de Mário Covas no governo paulista. A coligação "por um Brasil decente", também enfrentava as candidaturas alternativas de Heloísa Helena (PSOL), ex-petista que fora expulsa do partido, e Cristovam Buarque (PDT), ex-ministro da Educação demitido pelo presidente petista. A eleição de Lula em 1º turno, dada como certa, sofreu um tiro no pé com o escândalo dos dossiês, dando fôlego à campanha tucana: no 1º turno, Alckmin alcançou 41% dos votos válidos, contra 47% de Lula. No 2º turno, porém, a "avalanche lulista" saiu vencedora.
Hoje, em 2010, vemos uma disputa nova. O resultado que teremos permanece um mistério, a ter novos desenhos nos próximos dias. Aqui, portanto, vai mais um pedido de voto consciente. O Brasil precisa de um eleitorado crítico, e não de pessoas que se deixam levar por campanhas, propagandas e marketing. Dado o recado!
domingo, 26 de setembro de 2010
Entrevista com Eduardo Secco, autor de A Estreia, a mais nova minissérie da Internet
Ele cresceu assistindo novelas e seriados, influenciados pela família, em especial pela madrinha. Curioso do assunto, desde cedo começou a reunir material sobre diversos autores de novela, em especial Walther Negrão. Já colaborou com o renomado site Teledramaturgia (www.teledramaturgia.com.br), de Nilson Xavier. Foi vencedor do Video Game, quadro do Video Show apresentado por Angélica. Agora, depois de tempos como roteirista amador, Eduardo Secco, o Duh, 23 anos, estreia em com sua primeira série para a Internet, A Estreia. O projeto, no ar no site www.canalcasablanca.com.br, fala sobre jovens e suas relações, um dos temas prediletos do autor.
Às vésperas da estreia do seriado, Duh concedeu essa entrevista ao SuperCult, onde fala da “transpiração” que é escrever roteiros, do processo de produção e da inspiração para falar de um tema literalmente temperamental.
SC – Duh, esta minissérie é a concretização de um sonho seu, e seria a de qualquer autor em início de carreira: escrever com produção. Como está a sua expectativa para essa estreia?
Duh – É a concretização de um sonho mesmo, Fábio. Um sonho que eu julgava distante, mas que, felizmente, virou realidade, mais cedo do que eu esperava (rs). Minha expectativa é a melhor possível. Creio eu que fizemos um bom trabalho, tanto de texto, quanto direção, produção e elenco. Me sinto contente também por estar envolvido em uma produção cuja exibição vai se dar na internet. A internet é um mercado em expansão, principalmente para produções dramatúrgicas. Basta ver o sucesso que as tramas da Globo fazem na rede. A emissora já sacou isso e agora produz conteúdo extra para suas produções na internet. É uma iniciativa inovadora. Assim como, de certa forma, A Estreia também é.
SC – De onde surgiu a ideia para escrever a minissérie?
Duh – A ideia partiu da encomenda. Sabíamos que a minissérie era a etapa final de um curso de interpretação que estava rolando em Curitiba. Os alunos se prepararam durantes meses e aqueles que mais se destacaram ao longo desse tempo, formariam o elenco da minissérie (acabou que encaixamos praticamente todos os alunos no projeto, em participações ao longo dos capítulos). Como a faixa etária dominante entre os alunos era ali, entre 20 e 30 anos, já tínhamos noção de que a trama deveria ter personagens em torno desta idade. Paralelo a isso, acho que rolou, principalmente de minha parte, uma influência por conta da fase que estava vivendo durante a concepção da sinopse. Saindo da faculdade, sem saber o que fazer da minha vida, com medo do desemprego. É uma fase em que o jovem está em uma falta de perspectiva tremenda! Para atravessar essa fase, me apoiei na família e nos amigos. As oportunidades foram surgindo, um bico de vez em quando, a vontade de investir. Essa é ideia central da minissérie. São jovens em início de carreira, loucos pra progredir profissionalmente e se livrar dos estágios não-remunerados (rs). Enquanto não conseguem sair dessa vida de estudante, eles dividem seus dilemas com os que estão ali, próximos, os amigos e tal. Reflete um pouco também a trajetória dos alunos que formam o elenco, começando uma nova etapa após o curso e a gravação da minissérie. Daí, veio a ideia. Para ligar todos esses jovens, precisávamos de uma trama romântica. Raphael [Paiva, coautor da trama] foi quem desenvolveu um primeiro argumento. Fomos criando até chegar em Celo e Mônica.
SC – Os jovens e o contexto que os cerca parecem ser os seus temas favoritos. Por quê?
Duh – Não sei se são meus temas favoritos. Gosto de falar, antes tudo, das relações humanas, sejam elas entre os jovens ou entre indivíduos de outras faixas etárias. Gosto de tramas simples, bem ao estilo Walther Negrão e Ivani Ribeiro. Nada muito pretensioso. A Estreia tem muito dos jovens pelas questões que já comentei na resposta anterior. E acho que por ainda ser jovem (só 23 anos), eu me sinto mais a vontade escrevendo tramas voltadas para esse universo. As situações estão mais próximas das que eu vivencio com meu grupo de amigos, com a minha família. Acho que isso torna a criação mais fácil.
SC – Pra você, qual a importância do diálogo com a equipe de direção/produção?
Duh – É vital! Dividi a coautoria da minissérie com um grande amigo, o Raphael Paiva. Foi ele quem recebeu o convite da produtora e me chamou para colaborar. Com o desenrolar do projeto, dividimos as tarefas por igual, o que implicou na coautoria. Sempre tive contato com a direção também. Troca de e-mails constante. Nisso, discutimos desde o ritmo do projeto até a escolha do título. A abertura que tivemos é sem igual!
SC – Como é o seu ritmo de trabalho? Tem uma rotina disciplinada ou faz o tipo caótico?
Duh – Nesse primeiro trabalho, em especial, foi caótico! (rs) Tentei ser disciplinado, mas não deu muito certo. Quer dizer, até a entrega da sinopse, foi tudo bem. Mas quando começamos os roteiros... (haha) Eu e o Raphael conversávamos o tempo todo, via e-mail ou MSN. Tentávamos organizar tudo, mas a rotina de ambos andava meio complicada no período em que estávamos trabalhando. Precisei conciliar os roteiros com o estágio da faculdade (em ortopedia ainda por cima, o meu fantasma!) e a execução da minha monografia. Foi uma loucura! Só conseguia me organizar nos finais de semana. Passava o dia em frente ao computador. Quando não estava escrevendo, selecionava músicas que possuíssem uma identificação com as personagens ou com a situação em voga. Não consigo escrever sem música! E não consigo sair do MSN, mesmo quando estou escrevendo, o que contribui pra esse ritmo louco. No final, deu tudo certo, graças a Deus.
SC – Em sua opinião, a entrada da Internet em meios que se popularizaram através da televisão – como a dramaturgia – pode aumentar a migração de público para este veículo?
Duh – Eu acredito que exista público para todos os veículos. Quem cresceu vendo televisão, por mais que acompanhe uma coisa ou outra via internet, não vai abrir mão de assistir suas atrações preferidas na TV. Outros passam o dia na internet, trabalhando ou mesmo matando tempo, o que torna mais cômodo o acesso a atrações do gênero via rede. Esse tipo de público é cada vez maior. Basta ver o número de acessos aos capítulos das novelas da Globo, crescendo cada dia mais. A internet possibilita uma experimentação que já não cabe mais na televisão, por conta das medidas absurdas tomadas nos últimos tempos, envolvendo classificação indicativa e coisas do tipo. As medidas têm seu lado positivo, mas contribuíram e muito para uma estagnação da TV. A internet está no sentido oposto. Permite novas experiências a cada dia. Acho que aí é que o público foge pra rede. Eu, particularmente, me divido entre os dois veículos. E espero continuar produzindo para a internet, ao mesmo tempo em que pretendo, um dia, ingressar na televisão (se Deus quiser!).
SC – O que as pessoas podem esperar, ao assistirem sua série?
Duh – Sinceramente, não sei. Acho que cada pessoa vai ver de uma forma. Os jovens podem se identificar com os conflitos abordados; os mais velhos podem entender a mentalidade dessa juventude incompreendida. A minissérie oferece tudo o que uma boa minissérie deve oferecer: muito romance; uma pitada de suspense; situações engraçadas. Eu espero que, ao assistirem, as pessoas se envolvam com a história. Que o número de acessos seja alto e os comentários positivos.
Duh – Posso agradecer? Antes de tudo, Deus e meus pais. Depois, ao Raphael, pessoa que amo de todo o meu coração e a quem sou eternamente grato por estar comigo nessa jornada, e a direção, pela confiança em duas pessoas quase que inexperientes, e por terem feito o melhor possível para a realização dessa minissérie. Ao pessoal do Chat Memória da TV (em especial, Gui Staush, Paulinho Diniz e Ivan Gomes); amigos queridos, como Walter de Azevedo, a primeira pessoa que me incentivou a escrever; Eddy Fernandes, que, assim como o Walter, se propôs a ler os roteiros e dar um parecer; e Vitor Santos e Renata Dias Gomes, que me deram várias dicas sobre a técnica dos roteiros, quando me vi em apuros. E a você, responsável pela minha primeira entrevista com roteirista! Sucesso a você e ao SuperCult!
SC – Quem agradece sou eu, Duh! Eu e todos os leitores do SuperCult que, com certeza, terão o maior prazer de acompanhar A Estreia via Internet. Temos certeza que essa será apenas a sua porta de entrada nesse louco e fantástico mundo da dramaturgia!
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Janete Clair: o "temperinho de mãe" que fez história na teledramaturgia
Ela ficou conhecida como "Maga da Oito" e "Usineira de Sonhos". Escreveu alguns dos maiores sucessos da teledramaturgia brasileira em todos os tempos. Fez história quando sua novela, Selva de Pedra, marcou 100% de audiência, consolidando a telenovela como uma paixão nacional. Trouxe os homens para frente da TV, assistindo todos os dias às viradas dramatúrgicas de Irmãos Coragem. O mito que se formou em torno de seu nome faz de Janete uma das figuras mais reverenciadas da arte brasileira em todos os tempos. Mas existia uma mulher por trás do mito. Havia a esposa, a mãe, a avó, a amiga. Quem era, afinal, Janete Clair?
Quem nasceu Janete Stocco Emmer, em Conquista (MG), apaixonou-se por arte. Amava música, chegando a incluir "Clair" em seu nome artístico, em homenagem ao "Clair de Lune", de Debussy. Casada com Dias Gomes, considerado um dos maiores teatrólogos brasileiros, teve quatro filhos: Guilherme, Alfredo, Denise e Marcos Plínio. E, mesmo casada, mãe e esposa, Janete conseguiu exercer sua paixão pela dramaturgia. Expressa, primeiro, nas atuações em radionovelas da Rádio Tupi-Difusora e, em seguida, na escrita destas para a Rádio Nacional, conquistou espaço e público para um veículo que viria, rapidamente, a tornar-se o mais visto do país: a televisão.
Na TV Tupi, de São Paulo, escreveu suas primeiras novelas. O universo dramatúrgico, ainda preso às histórias passadas em países distantes, foi o local onde Janete exercitou uma função mágica: a de convencer pessoas, dia após dia, a acompanhar uma história, contada em pedaços, encerrada todo dia com uma situação sensacionalmente atraente.
O talento da ainda jovem escritora a levou até a Globo, onde fora chamada para apagar um grande incêndio. Este incêndio chamava-se Anastácia, a Mulher sem Destino, novela escrita por Emiliano Queiroz que, cara e lotada de personagens, tinha audiência decadente. Janete foi chamada para dar uma solução rápida para aquela história. Causou um terremeto, destruindo a ilha onde a história se passava, matando a maioria do personagens e fazendo a trama avançar 20 anos, contando-a a partir dos descendentes dos personagens restantes.
A Globo, neste momento, via sua dramaturgia transformar-se fatalmente. A estreia de Beto Rockfeller, na Tupi, em 1968, virava de ponta-cabeça tudo que já havia sido feito em termos folhetinescos no país. A história se passava em São Paulo, tinha diálogos coloquiais e personagens parecidos com os telespectadores. O sucesso imediato invadiu a TV como tsunami, e atingiu Glória Magadan, então diretora de dramaturgia da Globo, e afeita das latinas e chorosas novelas de então. Janete, junto com Dias Gomes, Vicente Sesso, Walther Negrão e Bráulio Pedroso, foram responsáveis por trazer aquela revolução na linguagem novelesca à emissora carioca. Janete veio com Véu de Noiva (1969), adaptação de uma de suas radionovelas, e mostrou que sim, podia escrever histórias com aquele teor cotidiano.
Em seguida, os grandes sucessos: Irmãos Coragem, Selva de Pedra, O Homem que Deve Morrer, O Semideus, Pecado Capital, O Astro, apenas para citar alguns. Seja escrevendo novelas que, sucessivamente, estreavam no horário nobre com seu nome na autoria, seja alternando-se com outros autores.
Mas Janete não era só uma mulher de sucesso. Sua vida como autora era, na verdade, um reflexo de sua vida pessoal, familiar. Escrevia enquanto cuidava dos filhos e do marido. Em entrevista divulgada no livro "A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo", Glória Perez reproduziu uma de suas afirmações a respeito: "Se os homens ficam nervosos, estressados, todo mundo entende. Mas estresse de mulher no trabalho é chilique ou falta de homem" (p. 123).
Janete era dona de um despudor único como dramaturga. Conhecia como ninguém o folhetim, e tratava-o sem amarras, sem vergonhas. Na mesma entrevista, Glória depõe sobre Janete, sem dúvida sua maior referência: "As pessoas a criticavam muito. E de modo grosseiro, até. 'Louca', 'delirante' [...]. Agora virou cult. Todo mundo a respeita, mas, na época, ela foi muito achincalhada. Um dos poucos que conseguiam enxergar sua estatura foi Nelson Rodrigues. Janete escreveu grandes cenas do folhetim" (p. 128).
Enquanto a crítica negava-se a enxergar o talento de Janete Clair, o público a brindava com uma massiva audiência. Suas novelas batiam recordes. Eram, sem dúvida, as mais assistidas e comentadas da emissora. Janete tinha um diferencial em relação a qualquer outro autor. Em muitos depoimentos pessoais, aqueles que a conheceram afirmam que Janete tinha um "tempero de mãe" em seu texto. Algo inexplicável, mas que influenciava de forma decisiva as sensações das pessoas envolvidas na produção, e no público, que apaixonava-se pelos seus personagens e situações.
Dias e Janete conviviam na mesma casa. Já eram, a esta altura, consagrados como dois dos maiores novelistas da época. Mas tinham estilos distintos. Enquanto Dias escrevia novelas intelectuais, Janete era uma autora popular. Dias retratava, em seus supostos estereótipos, a realidade brasileira. Fazia de uma aldeia o mundo. Janete, por sua vez, levava ao grande público a realidade que este gostaria de viver. Fazia da fantasia e dos sonhos suas grandes armas, que a aproximava do povo.
Os apaixonados por telenovela têm Janete, no mínimo, como uma parada obrigatória, algo que devem sempre considerar, estudar, reverenciar. Para muitos, além disso, ela é um exemplo. Uma referência maior, que sempre será atual, como sempre serão atuais o folhetim e os dramas humanos.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Momento Merchan - I Seminário de Administração de Piracuruca
Em 2008, inicia-se em Piracuruca a primeira turma de Administração de Empresas, trazida através da UAPI, Universidade Aberta do Piauí, que, juntamente com Sistema de Informação, e as licenciaturas em Física e Química, foram os primeiros cursos via EaD a funcionarem na cidade. O curso vem a corroborar com o aprendizado de quem pretende participar ativamente da economia do país, seja como empreendedores, seja na administração pública.
Partindo da necessidade de ampliar as discussões a respeito dos problemas e necessidades existentes na cidade e no Estado, no tocante às questões de gestão, e buscando viabilizar a troca de conhecimentos e experiências dos acadêmicos de Administração com professores e empresários, a turma do pólo Território dos Cocais realiza o I Seminário de Administração de Piracuruca, onde serão debatidos temas de grande relevância local e regional.
O evento será realizado nos dias 17 e 18 de setembro de 2010. Todos os interessados, sejam bem-vindos ao evento. Para inscrições, entrar em contato com os alunos do curso.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Sobre eleições, campanhas e a pirotecnia das propagandas políticas
Tava aqui lendo Roberto Pompeu de Toledo na última edição da Veja (Tudo bem, é de direita, mas vou fazer o quê? É um dos últimos redutos de vida inteligente...), e constatando a quantas andam a campanha eleitoral de 2010. Não, antes que me perguntem, não ando muito animado com os resultados que apontam os rumos do Brasil daqui em diante. Diferente do Tiririca (Florentina, Florentina, lembra?), candidato a deputado federal por São Paulo, não compartilho da opinião de que "pior não fica". Ah, fica sim. Bem, algumas considerações minhas sobre o que se processa na atual campanha eleitoral:
- Pirotécnicas propagandas eleitorais - Propostas? Quem precisa disso quando se tem nas mãos dinheiro e tempo na propaganda suficiente para se fazer um show hollywoodiano de imagens em high definition? São imagens rápidas, que vão do Oiapoque ao Chuí, discursos belíssimos sobre crescimento, a grandiosidade de obras por todo o país, as estatais funcionando a pleno vapor. Muito bem! Se eu fosse um dinamarquês, ao ver essa propaganda, acreditaria que o Brasil está bem próximo de ser não só a maior economia, como também o maior IDH do mundo! Palmas pros marqueteiros! Aliás, tem muitos aí que eu, pobre aspirante a roteirista, adoraria como diretor de fotografia de uma novela minha...
- Candidatos exóticos - Onde quer que esteja, o saudoso Dr. Enéas Carneiro deve estar de alma lavada. Ele, que sempre foi chamado de esquisito (para dizer o mínimo), chegou a responder à altura um jornalista que o chamou de exótico, afirmando que "exótica é a senhora sua mãe". Hoje, Enéas seria considerado o que há de mais normal e sóbrio dentre aqueles que aspiram um lugar ao sol. Ou melhor, um lugar no legislativo. E mesmo no executivo. Eu nem vou citar os exemplos mais sórdidos, porque a urticária já está subindo pelos dedos...
- Musiquinhas infames - Ah, as boas e velhas musiquinhas. Alguns jingles não são dos mais novos (Ey-Ey-Eymael... inesquecível), outros são recauchutagem de músicas de nossa MPB (ou quem quer que considere o tecnobrega e o forró eletrônico como "popular brasileira"), mas alguns foram encomendados especial e exclusivamente para os atuais queridões da República. O mais tenso é ver aquela turma desdentada, as banhas saltando pela camiseta curtinha, ali, cantando junto.
- Promessas de campanha - Tá sem emprego? A gente arranja! Tá sem dente? A gente arranja também! E por aí vai. O céu é o limite para o que os candidatos prometem. A sua conta de luz, que você pediu pra ele pagar, então, é fichinha diante do que muitos estão prometendo por aí.
- Recauchutagem no visual - É incrível como essa turma de políticos, que a gente tá mais velho assim de ver todo dia, fica mais bonito, bem vestido e sorridente nesse período. Nem parece aquela criatura suada, amarrotada e mal-humorada do dia-a-dia. Ali tá todo mundo de dentão branco, olhar de pai que revê o filho depois de anos, a camisa mais bem passada, o blaser escolhido para a ocasião, etc. Enfim, um desfile de beleza, dentro do possível. Porque né? Tem coisas que são impossíveis de mudar...
Bom, depois dessa listagem, de tom cômico, vamos falar sério? Tempo de eleição é tempo de pensar. Não só naquilo que vai fazer bem pra você, mas naquilo que é o melhor para a sua população. Não só naquele candidato que lhe favoreceu, dessa ou daquela forma, mas no que ele fez para favorecer a maioria. Melhores hospitais? Melhores escolas? Melhores estradas? Nisso, nisso, nisso. Eleição é tempo de analisar propostas, biografias e posturas administrativas. É tempo de pegar o currículo dessa galera que pede nosso voto todo dia na TV e vê-lo sem paixões. Ficha limpa, experiência e obras concretas que sirvam de provas daquilo que seu candidato fez são as melhores opções. Discursos extremistas e radicalismo ideológico também não fazem bem nesse período, afinal, no mundo real, o melhor caminho é sempre o do meio.
Pense nisso. E vote consciente!
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Músicas da minha vida - Versão Internacional
She Will Be Loved (Marron 5)
A primeira música do Maroon 5 que eu escutei me marcou, antes de tudo, pelo clipe. A história da mulher maltratada pelo marido, e objeto de desejo do mocinho/vocalista me sensibilizaram. A melodia perfeita caía como uma luva no ponto alto, onde falava "I don't mind spending every day / Out on your corner in the pouring rain... And she will be loved". Aí acabava tudo. rs
Making Love Out Of Nothing At All (Air Supply)
Essa eu escutei no CD estilo "Good Times" de uma amiga minha, e lá estava a representação melódica de minha paixão aos 14 anos (naquele momento em que as paixões são avassaladoras), por uma menina do colégio. Acho que o CD ralou de tanto eu escutar vezes seguidas. Óbvio que não sou da época áurea do Air Supply, mas um amigo do meu pai costumava dizer que nos bailinhos dos anos 80 se xavecava, namorava e terminava com a menina, de rostinho colado, só durante essa música.
Can You Feel the Love Tonight (Elton John)
Essa é memória sentimental da infância. O tema de O Rei Leão, cantado por Elton John, ecoava por dias a fio no som da minha casa. Tinha num CD com clássicos do Oscar que meu pai havia comprado. Não me esqueço da versão em português, e do clipe romântico entre Simba e Nala durante o filme. Há coisas que, realmente, são eternas.
Save You (Simple Plan)
A música que dava gás à luta contra o câncer pegava de jeito o aspirante a politicamente correto aqui. Gosto de grupos que adotam essas causas, e o Simple Plan marcou um gol, não só com a bela letra quanto com o ótimo clipe e seu merchan social bem feito. Utilizei-a como fundo de um clipe que fiz sobre a África para a universidade, e que ficou bem bacana.
Goodnight, goodnight (Maroon 5)
Mais uma do Maroon 5, sem dúvida um dos meus grupos favoritos. E a música também contava com um clipe bem interessante, a tela dividida entre uma situação que começava e a outra que iniciava-se exatamente com o seu fim. O término das duas coincide com o entendimento do início, meio, fim e recomeço de uma história de amor. Enfim, romantismo em alta!
Gostaram da seleção? Assim como o amigo Walter, peço aos que comentem que tragam também algumas das músicas de sua vida aos comentários. Abraços a todos!
sábado, 7 de agosto de 2010
Tim Burton - Onde a esquisitice ganha sentido
Recentemente, visitei a locadora de DVD (Sim, eu vou à locadora. Como rapaz politicamente correto, não saio por aí comprando DVD pirata, bando de corruptos), com o intuito de alugar o mais novo blockbustter Alice no País das Maravilhas. Não apenas para relembrar o clássico da Disney, e a história apaixonantemente surreal de Lewis Carrol, mas para constatar que ninguém dirigiria melhor uma película com tais características quanto Tim Burton.
Tido por muitos como estranho, sombrio e sociopata, Burton é caracterizado, como todos sabem, por suas temáticas soturnas. Seus filmes possuem um tom noir, mas não o daqueles grandes suspenses do passado (não, não é Hitchcock, tampouco Polanski). O horror de Burton é aliado a um tom cômico, que lhe dá leveza, quase uma inocência infantil. Os olhares de seus personagens variam entre o piedoso e o psicótico, fazendo o público enxergar ali suas próprias neuras.
A marca registrada do diretor fica clara em alguns filmes típicos. Seja em roteiros originais, seja em adaptações (sempre o chamam quando querem exatamente este tom para uma obra já existente), Burton consegue imprimir ao personagem retratado - ideal ou real - um ar de quem dialoga, na dúvidas de sua existência efêmera, com os problemas do interlocutor.
A obra de Burton é recheada de casos assim. Seu personagem mais famoso é Edward, o estranho e infeliz produto de uma invenção com pedaços humanos. Sendo um arquétipo de Frankstein, Edward tem como característica mais marcante - fora suas costuras no rosto e no corpo - as mãos de tesoura, o "aleijão" que o afasta dos demais humanos. É ele, também, uma metalinguagem de Pinóquio, o boneco que queria ser menino de verdade. Edward, o mãos-de-tesoura, queria apenas uma vida normal, amigos, namorada, família, vida. Mas as dificuldades de convivência o tornam um anti-social amargurado, irrustido como seu criador (o diretor Burton, não o inventor maluco).
Na continuação de sua obra temos as adaptações. Os grandes personagens que ganharam vida e características novas nas mãos indecifráveis do cineasta. Antes de Alice, o cavaleiro das trevas Batman também foi uma de suas cobaias. Em Batman, de 1989, e Batman Returns, de 1992, porém, não era o Homem-Morcego o alvo das discussões existenciais do diretor. Eram, estes sim, os vilões da obra. O Coringa, vivido por Jack Nicholson, traz em seus problemas mentais a essência do palhaço infeliz criado pelo diretor. O Pinguim, encarnado por Danny DeVito três anos depois, é uma recriação do mito da não-aceitação pela diferença e estranheza.
Posteriormente, Burton viria a ser, também, o responsável pelo remake de A Fantástica Fábrica de Chocolates, baseado no livro homônimo de Roald Dahl. Nesta versão, o grande protagonista não é Charlie, o garoto pobre que ganha um cartão para visitar a fábrica das maravilhas, e sim Willie Wonka, seu estranho e anti-social proprietário. As perturbações de Wonka, também assolado pela não-aceitação perante a sociedade, se figuraram na interpretação de Johnny Depp, recorrente no "sentimental casting" do diretor. A história infantil ganha contornos psicológicos densos ao analisarmos o homem que construiu um império mágico para suprir o vazio de família e amigos.
Contar histórias não é apenas escrevê-las. Diretores, como sabemos, têm profunda participação em seus contornos, com a escolha da fotografia, do elenco, das cores, da trilha sonora. Burton, sem dúvida, é um dos mais prolíficos e marcantes de Hollywood. Cabe a nós, cinéfilos analíticos, buscarmos em sua obra os elementos de sua personalidade controversa, de seu "eu" investido de caráter relacional manchado. Cabe encontrar ali sua busca por aceitação, família e amigos.