Há algumas décadas atrás, a medição de audiência era feita através de pesquisas de rua, onde pessoas eram entrevistadas e indagadas sobre qual programa estavam assistindo em um horário tal. Com dados individuais e pesquisas quem não eram realizadas todos os dias, não eram incomum que novelas nos horários das 18h ou 19h alcancassem 50 pontos de audiência. Médias do IBOPE no horário nobre, quase todos os dias atingiam 60, 70 pontos de média. Algumas chegavam mesmo a alcançar 80 pontos. Por duas vezes, novelas da Rede Globo bateram o recorde de 100% de audiência: foi o caso da primeira versão de Selva de Pedra (1972), quando a protagonista Simone (Regina Duarte) revelava o grande segredo da trama, e do último capítulo de Roque Santeiro.
O que esta fria análise de números significa? Que a Rede Globo não é mais a mesma, e que vem perdendo espaço para a concorrência? Que isto é resultado das mudanças de critério de medição? Ou mesmo que a televisão como um todo tem perdido espaço na vida das pessoas, dando lugar a novas mídias, como a Internet?
Todas as respostas podem ser consideradas corretas. O controle remoto chegou para ser o maior pesadelo das consideradas "campeãs de audiência". Na verdade, já faz algum tempo que a Rede Globo não é mais o único reduto de qualidade na televisão brasileira. Obviamente, essa qualidade vem sendo mantida, e crescendo a cada dia. Mas a única, não mais. Outras emissoras conseguem fazer novelas, programas de auditório, reality-shows e programas de variedade cuja qualidade, pelo menos, almeja o "Q" global.
Em relação aos critérios, sim, a sua mudança afeta a medição. O volume de números no IBOPE, que impressionavam, hoje são bastante relativos. Não é possível comparar uma medição que considera pessoas individualmente àquela que leva em conta número de televisores ligados. E esta mesma se tornou bem mais rigorosa: hoje, 1 ponto no IBOPE equivale a 60 mil televisores ligados na Grande São Paulo, quando eram cerca de 55 mil há alguns anos atrás.
Por fim, a televisão digital, a TV a cabo e a Internet têm ocupado espaços onde antes a TV aberta era senhora absoluta. O público, mais exigente que nunca, busca a liberdade de escolha, e, muitas vezes, a especificidade de canais que lhe oferecem uma gama enorme de opções em relação a um tipo específico de produto (filmes, por exemplo).
Mesmo assim, ainda vivemos a guerra das emissoras pela busca de números. A Rede Globo amarga baixos índices com suas atrações às 19h e 21h. A novela Viver a Vida, de Manoel Carlos, há muito está longe dos tão esperados 40 pontos, e os motivos podem ser vistos de longe por qualquer leigo. Já Tempos Modernos, a "atração cult" das 19h, é um porre de se ver, em seus momentos de populacho profundo e mal-elaborado. Em contrapartida, a ótima Cama de Gato segura as pontas às 18h, enquanto a toda-poderosa global tira do forno sua cavalaria: o esperado remake de Ti ti ti e a mais esperada ainda Passione, suspense/drama/comédia de Sílvio de Abreu.
Na concorrência, porém, o clima não é de festa. Apesar do matinal Hoje em Dia, da Record, disputar ponto a ponto com o cansativo programa de Ana Maria Braga (mais o quê?), a emissora da Barra Funda que almeja ser 1º lugar tem perdido espaço pro SBT de Sílvio Santos, já visto por muitos como morto e enterrado no IBOPE. A estaca final foi o horroroso resultado do reality A Fazenda, que nem de longe pode se comparar ao super-sônico Big Brother Brasil 10. Já Sílvio Santos, o franco-atirador, tirou do pensamento essa de superar a emissora dos Marinho, e se contenta em liderar "a TV mais feliz do Brasil".
Felicidade é algo que varia de pessoa pra pessoa (ou de TV para TV). O que dá pra concluir, apesar do grande baque que a audiência vem sofrendo, é que ainda é preciso comer muito feijão-com-arroz para desbancar o 1º lugar.
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